O homem e a ciência

Continuamos a brincar com a vida. O homem se arvora de Deus, faz-se atrevido e imita os anjos: quer habitar o paraíso, pecando, ainda que esteja ele aqui na terra. O apocalipse deverá sair de nossas mãos e destruir nossos olhos e tapar nossas bocas.

O Reino Unido autorizou a criação do embrião – animal. Os cientistas desse país estão engendrando um novo ser, em laboratório, autorizados pelas leis britânicas! Serão seres híbridos, feitos com DNA humano e óvulos de outros animais. Por exemplo, eles retirarão o DNA de óvulo de vacas ou coelhas e porão, em seus núcleos vazios, o DNA de seres humanos.

Desses experimentos poderão nascer seres tão estranhos que os temerá até a própria ciência. O Vaticano já sinalizou cognominando o experimento de “ato monstruoso”. Não sei até onde nos levará a ciência e se por bem ou por mal. O homem tem dado passos perigosos, rumo nem sei lá até onde. Os deuses de sua sabedoria têm construído canais de avanços cada vez mais poderosos. Estamos criando os nossos próprios monstros que poderão permitir-nos que, com eles, quedamos todos nós, para tristeza da humanidade!

Se estamos procurando a causa de alguma doença e até a produção de certas substâncias que possam proporcionar a cura ou paliação de algumas doenças, hoje, tidas como incuráveis, disso estamos cansados de saber, mas os passos pesados estão sendo dados em areias movediças, com sentido e direção claros, mas nem tão claro controle de tudo o que é exigido. Poderemos construir monstrengos cujas mordidas poderão inocular em nossa consciência um arrependimento perverso demais de ser suportável.

Há razões que jamais serão permitidas à nossa razão, saber delas. A semente que germina em um laboratório é desenhada e pronta pela natureza. Se o homem, ao invés de plantá-la, a modifica, poderá fomentar o aparecimento de legumes com couro, abelhas com chifres e borboletas com mãos bem desenhadas. Aí seremos a própria ficção cotidiana, e nossos sonhos serão vistos e saboreados sem que para isso tenhamos que dormir ou contemplá-los.

Assim como uma explosão nuclear pode deixar-nos marcas irreparáveis, a modificação de embriões, misturando-os com DNA de outras espécies, poderá retirar-nos o controle da vida e o que pensávamos ser edênico, passaria a ser infernal.

Um tempo novo traz desafios novos. O homem tem sido insaciável em suas buscas e tem desbravado caminhos e bandeiras. Saberá Deus até onde irá. Um novo tempo há de fazer-nos lembrar velhos limites, certas permissividades e, melhor do que tudo isso, ensinar-nos a ter receio de furdunçar no profundamente desconhecido. Se ainda estamos começando o que já nos parece o fim, creiamos que, até para a sabedoria, há de ter-se limites e limites a que deve obedecer a ciência que construímos e com a qual tanto avançamos sem medo do próprio medo.

A procura pela tão ambicionada longevidade, os redesenhos dos DNAs, a procura desfronteirada dos nossos cientistas quase malucos, a autopermissão do homem para ir além dos seus deslimites, tudo isso poderá fazer nossos olhos enxergarem os orvalhos de sangue e as chuvas de suaves doces líquidos perfumados. Os aminoácidos poderão até ser rearranjados na tecitura das proteínas estáveis e estranhas, mas as substâncias de que são feitas, jamais. O homem subtrai ou acrescenta às partes atômicas, mas nada cria; transformar poderá nos ser o pior perigo e a comida menos digerível.

Há de olhar-se para um tempo novo com velhos frutos, produzindo-se melhor e mais seguramente.