VOLTANDO PRA CASA

Alguém uma vez me disse que a melhor parte de viajar era a hora de voltar pra casa...

E finalmente essa hora tinha chegado pra mim. Tinha aproveitado cada momento, aceitado tudo que a vida me dera. Mas não tinha como ficar mais.

Era a hora de voltar pra minha casa, e encarar tudo que eu havia deixado para trás...

No caminho de volta, não conseguia parar de pensar o que define uma casa.

Ela pode representar muitas coisas... poder, conforto, segurança, referência, status social, dentre tantas coisas...

A minha não era a mais perfeita de todas, não era a maior, não era a mais cara do condomínio... aliás nem minha de fato era, já que moro com meus pais, ou seja, ainda pertenço ao ninho.

Mas é nela que eu me sinto seguro, protegido e realmente em casa.

Temos os nossos problemas, horas tenho vontade de explodi-la, outra de não sair dela e curti-la ao máximo. Mas no final de contas que relação não tem seus altos e baixos?

Uma coisa que me chama a atenção são os nômades, os ciganos, ou aquelas famílias mais alopradas que pegam um trailer e caem na estrada... qual será a definição de casa para eles?

Seriam filhos do mundo? Que em qualquer lugar que estejam se sentem bem, seguros, a vontade?

Porque ao falar de casa, logo me vem isso à cabeça... minhas coisas, minha energia, meu cheiro, meu habitat. Minha zona segura... meu território!

Uma casa transmite a personalidade de seu morador, isso é fato. Se ele tem bom gosto, se é organizado, clássico ou moderno, limpo ou sujo.

Se eu fosse um analista ou fosse me comprometer com alguém, antes iria dar uma conferida na residência... Pois os moradores podem usar máscaras, mas suas casas não! No máximo pendurada na parede...

Minha casa provavelmente tem personalidades múltiplas, pois todos que nela moram, fazem questão de acrescentar seu toque... Por isso fico com meu quarto.

Horas bem organizado, horas uma zona organizada, ou seja, bem eu mesmo!

Limpo, cheiroso, com um armário bem grande para guardar minhas roupas, e livros, muitos livros...

Mas é inevitável não pensar em quem não tem uma casa, um quarto... como os moradores de rua, que vivem sem referência de qualquer casa, como eles devem se sentir sem essa segurança?

Será que eles se transformam em suas próprias casas? Ou seja, eles próprios conseguem buscar essa segurança independentemente de onde estejam?

Não sei as respostas dessas perguntas... mas elas me intrigam bastante.

Quando saltei do táxi e coloquei as malas no chão, tive a certeza que estava no meu mundo, ele não era perfeito, mas também não teria razão de ser.

As coisas continuavam iguais olhando por fora, mas tinha certeza que muita coisa ao seu redor tinham mudado, aliás eu mesmo tinha mudado um bocado, desde minha viagem para o Rio.

Olhei para minha casa, de pintura verde, com janelas brancas, um sobrado charmoso com uma vista linda de toda uma lagoa.

Nossa relação durava já três anos, talvez não fosse durar mais, já que começava a me cansar de suas paredes... porém era nela que eu ia descansar da viagem e me sentir seguro, até que a vida me chamasse para cair na estrada, em busca de uma nova companheira, chamada casa... e assim formar um novo lar, doce lar!