NOSSAS TRÊS GRANDES VIRTUDES

Nós, os brasileiros, somos muitos distraídos!

Se não fosse por isso, já teríamos notado que temos três grandes virtudes, que botam, praticamente, todos os outros países no chinelo.

Vamos falar da primeira virtude.

Ela, provavelmente, passa despercebida, se não atentarmos, devidamente, ao que salta aos olhos, quando verificamos os acontecimentos de forma mais analítica. Ao longo deste mês de abril de 2019, e até o seu dia 26, anotei com todo o cuidado que, nas mídias sociais, na mídia impressa, nas TVs e rádios (dentro das minhas limitações), tivemos a manifestação de 6.267 especialistas, nos mais variados assuntos. Também anotei serem 8.354 manifestações, porque alguns desses sábios especialistas se manifestaram mais de uma vez.

E ainda dizem que nosso país tem poucos cérebros privilegiados.

Ora, temos especialistas para qualquer assunto existente, e até para os que ainda não foram inventados ou descobertos.

A segunda virtude não passa tão despercebida, mas é pouco valorizada.

O fato é que somos honestos demais!

Para nos certificarmos disso é só verificar que não existem culpados em nosso país, apesar de existirem muitos crimes. Minha intuição me diz que, provavelmente, tais crimes estejam sendo perpetrados por alienígenas ou entidades do além, que querem incriminar nossos honestos homens públicos. Precisamos de muita novena, oração, penitência, jejum e outros recursos espirituais, para exorcizar os demônios que atentam contra essa gente tão boa.

A terceira virtude é a modéstia.

Nunca houve antes neste país, como em qualquer outra parte deste planeta, pessoas tão modestas como as que vemos, continuamente, nos holofotes da mídia.

Tais modestos e célebres cidadãos e cidadãs, fizeram tanta coisa boa, em tão pouco tempo, que muitos tendem a não acreditar. Convenhamos que não é fácil encontrar o resultado de seus grandes feitos (ao menos os positivos), porque, em sua modéstia, tendem a ocultar tudo que fazem. Todavia, em algum momento, mais adiante, diante da incredulidade geral, costumam, afinal, falar entusiasticamente de suas obras, abandonando, pesarosamente, seu costumeiro modo tão modesto de ser.

Há muitos, entre nós, que reclamam das imunidades e impunidades.

É preciso, no entanto, pensar que se temos tantas pessoas virtuosas no poder, é claro que elas precisam estar acima da lei, pois são quase anjos, que decidem tudo por nós. Mesmo quando decidem contra nossa vontade, isso se dá porque somos precários, falíveis, simples plebeus, e não podemos nos comparar a beatitude desses semi-deuses perfeitos e sábios.

Vejam que eles são tão generosos, tão benevolentes, que ainda permitem que pensemos que temos direitos iguais, que vivemos em uma democracia, que nossas necessidades são relevantes, que nos representam.

Ao invés de importuná-los, devemos rezar para que não comecem a nos exigir nossas virgens em holocausto, oferendas, submissão total e plena.

Não estamos tão distantes disso.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 27/04/2019
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