Cão dos infernos!

Caminhava distraido, vez ou outra, reparava como meus passos pareciam estranhos, e isso me fazia cambalear mais tortamente ainda.

Era noite e havia chovido um pouco quado eu ainda estava no ônibus, mas parou assim que pus os pés na ruazinha baixa.

Há dois anos atrás passava alí de mãos dadas com minha paixão de adolescência; a doce Verônica... Quão nítida essa imagens me parece, há que distância... Esse pensamento sempre me deixa um pouco nostálgico.

Caminho assim, meio vacilante, até que a fera sai às pressas de um portão escuro e me intercepta o caminho. O animal é grande, tem sua boca exibindo seus gloriosos dentes afiados e lubrificados com tamanha baba fétida. Aqueles pêlos negros o faziam ainda mais perverso naquela semi escuridão, e por algum motivo, penso que combinavam com a rua... Cão dos infernos! Fera maldita! Por um momento não soube o que fazer, acho que ainda estava lutando pra deixar aquelas lembranças embaraçosas da rua. O cão rosnava sem parar, ameaçava me morder. Eu, que até então só olhava perplexo, decido por fim naquele inconveniente todo e tão feroz feito a besta mais temida; rosnei em resposta um arsenal de palavrões que só os poetas e as pessoas ofedidas têm à ponta da língua... A fera, após o estrupicio, voltou a seu tímido abrigo, demonstrando ter perdido toda a valentia que tinha, e até hoje quanto passo por aquela rua, juro que posso ouvir seus grunidos baixinho.

Resta apenas confessar que não havia ninguém ali ao meu portão... Sim! Sou eu o cão melancólico da rua baixa.