Pessoas com várias faces

Vários anos atrás, li uma história cujo título era A menina que era duas. A protagonista se tratava de uma menina que era bastante amável com a professora mas que tratava a mãe com extrema rudeza. A própria mãe sentia que a menina gostava mais da professora do que dela. Após ler, fiquei pensando: quanta gente não é assim? Trata os de fora com toda a amabilidade e maltrata os de sua família?

Conheço o caso de um professor que reclama que os filhos mal falam com ele em casa e diz que, lá fora, todos o adoram. Mas a verdade é que ele maltrata a mulher e os filhos e, quando está no trabalho ou encontra os amigos, transforma-se a ponto de ninguém de sua família reconhecê-lo. Vira o ser mais adorável do mundo. Por que será que há tantas pessoas assim, que são incapazes de dizer uma palavra carinhosa para os seus familiares e tratam tão bem os de fora? Bem, lá fora, elas se preocupam em causar boa impressão mas, dentro de casa, mostram-se como são: rudes, insensíveis e egoístas.

Quantos não são os homens que são trabalhadores exemplares, membros respeitáveis da sociedade, solidários com os amigos e frequentadores assíduos das igrejas que batem nas esposas e nos filhos? Da mesma forma, há filhos que são amáveis com os professores e amigos e tiranizam os pais. E muitas mulheres que parecem ser irrepreensíveis são verdadeiros monstros com os filhos. Em casa, pais que maltratam os filhos costumam reclamar: lá fora, todos gostam de mim. Mas meus filhos não querem nem conversa comigo. Por que será? Não dá para desconfiar de um pai ou mãe cujos filhos fazem de tudo para evitar? Se fosse apenas um filho que agisse assim, o problema seria do filho mas, sendo todos os filhos, há bons motivos para termos dúvidas se uma pessoa dessas é tão boa. Às vezes, o amor de quem tem que conviver com pessoas tirânicas que parecem anjos fora do ambiente familiar morre. Cheguei a essa conclusão ao ver a história de uma mulher que resolveu comemorar a morte do marido fazendo uma festa. Podemos chamá-la de monstruosa? Temos de admitir que ela é sincera. Muitos são os que não lamentam a morte dos seus cônjuges ou genitores, porém fingem tristeza para não causar má impressão. O ambiente familiar pode ser um verdadeiro inferno. Então, não podemos julgar a atitude dessa senhora.

Que dizer? Apenas que as aparências realmente podem nos enganar. Uma pessoa que pensamos ser a mais simpática do mundo é assim apenas diante daqueles para quem quer causar boa impressão. A vida social exige que usemos máscaras e essas pessoas sabem muito bem como usar as suas.