O defunto e o caixão

O fato aconteceu, em um município do Estado de Goiás, na década de 70 e que gerou um certo desrespeito, com a família da vítima.

Um senhor idoso, que morava na zona rural, com seus filhos, veio a falecer, à noite, durante um temporal de chuvas.

Eles moravam, em um casebre de adobes, chão batido, entre duas serras, à beira de um córrego, sem ponte, que dividia uma pequena estrada.

Como não havia veículo no local, um dos filhos pegou o cavalo e aos prantos, foi até a cidade, solicitar o caixão para enterrar o seu pobre pai.

Ele foi até a casa do Prefeito, que cedia as urnas, aos mais necessitados.

O filho, ao voltar para casa, depois de horas, encontrou o córrego cheio, numa grande enchente e seu cavalo se recusava a passar na água.

Amarrou o cavalo, numa árvore, nadou até a margem e a pé, chegou em casa. Nessa hora, já tínhamos preparado o falecido, com higiene e limpeza. A tarefa foi difícil, vejamos:

Dois homens levantavam o corpo e dois esfregavam seu corpo, com bucha e sabão. Secamos o defunto e estendemos ele em um banco de madeira, que ficava na pequena sala do casebre. Dobramos seus braços e espichamos suas pernas, até a chegada do Caixão.

Momento triste, alguns chorando, ali próximo ao corpo, que a cada minuto ficava mais gelado. O tempo passava e o caixão não chegava.

Já de madrugada, alguns vizinhos foram para suas casas, descansar e ficamos eu, meu pai e a família do morto, pois nosso cavalo havia fugido para o pasto.

Só por volta das quatro da manhã, vimos de longe, dois homens, carregando um caixão nas costas. Pensamos... Não deveria vir de caminhonete?

O motorista e o auxiliar, justificaram:

Desculpas, mas infelizmente o córrego estava cheio, a caminhonete afogou e o caixão, desceu o corrego, levado pela enchente.

Mas, graças a Deus, ficou preso num galho de árvore, balançando suspenso, daí, entramos na água e trouxemos o caixão, nas costas. Ufa... Quase tivemos que buscar outro caixão na cidade.

Nisso, a chuva parou e tudo se acalmou e levamos o defunto, já no caixão, para ser enterrado, no Cemitério municipal, onde repousa eternamente.

Jaime Teodoro
Enviado por Jaime Teodoro em 02/05/2019
Reeditado em 28/02/2020
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