A arte candanga de luto.

Brasília amanheceu,ontem, sem a alegria de um de seus personagens mais conhecidos. A arte da encenação teatral e cinematográfica candanga perdeu Andrade Junior. Desde sempre Andrade era um artista na arte de inventar e contar causos e fazer rir. E não era pouco o tanto que se ria. Convivi durante muitos anos com essa figura carismática. Fizemos teatro na escola, jogamos futebol, que, aliás, ele também fazia bem, às vezes rindo da raiva que nos provocava com as brincadeiras improdutivas que fazia no campo de terra batida que existia onde hoje está a feira modelo da cidade de Sobradinho, de onde ele nunca afastou-se. Andrade era um aglutinador. Nunca deixou que as pessoas se dispersassem, por longe que estivessem. Cuidou de manter os laços que a adolescência criou no convívio diário. Se alguém podia dar notícia de alguém, lá em Sobradinho, esse alguém era Andrade. Nenhuma porta se fechava para essa criatura ímpar. Na UnB, podia-se não saber o nome do Reitor, mas se perguntassem pelo Andrade todos sabiam quem era. Ainda que discordasse de várias opiniões, que ele despejava, rindo, talvez para que nunca soubéssemos se era real ou piada, era impossível não gostar desse cara que parecia nunca ter tempo ruim, porque, até os tempos ruins ele transformava em comédia. Cine Brasília, o mais antigo e maior cinema da capital federal foi o último palco do último ato desse artista. lá o seu corpo foi velado, entre cenas dos muitos trabalhos que fez. Segue em paz, Argemiro Gomes de Andrade Junior. O Ceará da nossa adolescência.