O BAFO DA MOÇA

Poderia ter ocorrido com algum gaúcho. Porém, foi um sergipano quem me contou que o César, um nordestino com nome de Romano, foi se divertir num baile, bailão mesmo, coisa de interior, quando percebeu que uma moça linda de fazer inveja a muita miss se chegou mais pra perto do centro do salão. Coisa de quem quer ser notada. Foi pra já. O César já tava com o pé que era um leque, era beleza por demais, mal teve tempo de dizer aos amigos já volto e abordou a distinta.

- Quero dançá com ocê, vamu?

- Vamu, disse ela, e só não se sucedeu ali o pior porque a moça se fazia de moça e aquele vamu saiu assim tímido, olhos ao chão, rosto de lado como quem olha de viés.

Mas logo depois dos primeiros passos o inevitável aconteceu. Cheio de amor pra dar, o César foi logo começando a cantada:

- Seu nome?

- Juventina, mas todos me conhecem por Tina.

O problema não foi ter falado, até que tinha uma voz de amaciar ouvido. O problema é que falou olhando pro moço. Meu Deus!!!! Nestas horas sempre se apela pra Ele, que bafo!

Era coisa de doer na alma. Nem vou descrever com o que se parece, pois cada um sabe o que lhe dói na alma. Indescritível, só possível mensurar de uma forma imponderável. Era coisa de guri pedir licença pra ir ao banheiro e ainda observar que se tratava de diarréia. Mas o César agüentou firme. Foi até o fim da marca e menos mal que quando esta terminou, a banda pediu licença, iria parar aqueles quinze minutinhos que normalmente não duram menos de meia hora.

Agradeceu com muita classe e voltou para junto dos amigos.

- Gostosinha, mas tem um bafo! Não dá pra agüentar, comentou.

Ela falou às amigas:

- Que homem, este não me escapa!

A música retornou, e já que César não foi, ela foi e o convidou para dançar. Era um mulherão e ele não queria dar vexame, foi.

Não era alto. Dançava tentando escapar daquele hálito de múmia, mas, desgraçadamente, não conseguia se afastar muito, e ela cheia de conversa pra gastar.

O César respondia, mas não virava o rosto de frente pra moça de jeito nem maneira.

Mascando um chiclé, o César nem havia notado, ela perguntou:

- Adivinha o que estou mastigando?

- Bosta, respondeu ele, sem pestanejar.