A FILA MALUCA

Que fila é esta? — Perguntei ao sujeito que acabava de entrar?

— É a fila da encarnação.

— Fila da encarnação??!! Você está de brincadeira!!!

— É isso mesmo. Aquele mágico com roupão azul estrelado e chapéu pontiagudo faz você encarnar personagem, celebridade, macaco, galinha... qualquer coisa.

— Hein?! Quem te garante que essa maluquice funciona?

— Ora, ele diz que é o Mago Merlin. Você paga 100 reais, entra na tenda ao lado e é lá que tudo que estou lhe dizendo acontece.

— AH! AH! AH! Pura balela! É a fila da “enganação”, isso sim!!!

— É sério, amigo!!! Eu por exemplo, entrei pela segunda vez na fila e agora encarnarei uma galinha. A garota aí da frente o famoso Walt Disney e o segundo da fila encarnará um papagaio tagarela. Pergunte a eles.

Confesso que me senti num manicômio, cercado de babões.

— Bem, se não acredita espere a sua vez e verá com os próprios olhos!!!

Eu estava disposto a pagar pra ver e por ali fiquei. O “homem galinha”, à minha frente, logo foi atendido e sumiu na tenda. Pouco depois, ressurgiu como uma pequena galinha no chão, cacarejando diante de todos com pena e tudo, e feliz da vida por ter botado um ovo. Desabei. Mas “o galinha” deu 20 passos e diante de todos, rematerializou-se no homem que era. Um OHHHHH ecoou e sonoros aplausos se ouviram. Não estava vendo aquilo. Juro! Pouco depois, entrou a garota e saiu como o grande Walt Disney, e pouco depois um rapaz e logo surge o papagaio tagarelando.

Tanto um quanto o outro acabou se desmaterializando após o vigésimo passo e voltou ao que era na vida real. Confesso que fiquei perplexo. Agora era a minha vez, e o tal Mago Merlim me convidou para entrar na tenda. Me perguntou em que eu gostaria de encarnar. Ainda vacilante tasquei: no Homem Aranha... quero que me transforme no Homem Aranha!!!

— Seu desejo é uma ordem! — sentenciou o mega-mago do ilusionismo.

— Dito isto, digitou o que lhe pedi em seu notebook e logo surgiu a figura do personagem das HQs numa tela maior, bem diante de mim.

— Se é isto que deseja, pague os cem reais e aperte o “enter” para encarnar.

Obedeci e num passe de mágica me ví ao lado do Mago Merlin no típico uniforme azul e vermelho do Homem Aranha!!! Sem perder um minuto o “Mago” bradou: Próximo!!! —, quando saí, uma alegre senhora tirou um self comigo “Homem Aranha” e como nos outros casos após 20 passos... voltei ao que era, diante de todos, numa explosão de aplausos. E subitamente ouvi uma vozinha bem próximo de mim dizendo em um tom de extrema excitação:

— Por que você parou? Continue! A historinha está super legal, papai!

Você virou mesmo o Homem Aranha que escala as paredes?!

— Claro! — disse à minha jovem filhinha, ávida por ouvir o restante da historinha. E assim, passados alguns minutos, Belinha adormeceu profundamente, numa experiência de ficção fantástica que faria a jovenzinha viajar pelo mundo mágico do mago Merlin. De fato, o momento atual pede que alimentemos nas crianças a capacidade de fantasiar, diferente do mundo-game-digital. E foi bem isto que fiz com Belinha. Agora me vou, e ela vai dormir.