A República das Bananas

A ciência afirma, e jura de pés juntos, que o homem descende do macaco. Será? Muitos de nós duvidamos disso, mas infelizmente existem fatos que corroboram tais afirmações; fatos estes que infelizmente não são frutos da imaginação de ninguém; são fatos verídicos e que embora tenham acontecido em tempos remotos -há centenas de anos- puderam e ainda podem ter a sua veracidade comprovada através dos registros hoje existentes nos diversos livros de história à disposição de qualquer um que se interesse pelo assunto.

Mas existe lá, registrado nos anais da história universal, um destes tais acontecimentos históricos que, em especial, me chama muito a atenção; trata-se do episódio que narra o descobrimento de uma imensa faixa de terra que ficava em um até então longínquo e desconhecido continente. O fato é que esta mesma faixa de terra acabou por se transformar num belo e imenso país, que infelizmente tempos mais tarde, por desmandos, corrupção e incompetência dos seus governantes, acabou ficando jocosamente conhecido como a "República das Bananas".

Penso que este país chegou a este ponto em total concordância partindo daquela premissa que diz : "tudo que começa mal, sempre termina mal". E nós já começamos muito mal desde os momentos que antecederam aquela histórica aventura que foi o descobrimento do nosso país.

"O que escrevi, escrevi", disse alguém num momento importantíssimo na história da humanidade. É por isso que respeito o que está registrado nos anais da nossa história, mas pelo que acontece atualmente neste nosso País, só posso acreditar que na verdade, ‘a coisa’, deve ter acontecido assim:

Havia em um lugar distante, um pequeno país onde seus habitantes ali viviam pacíficamente e em perfeita harmonia. Eles tinham uma forma de governo onde um deles, escolhido pelo povo pela sua sabedoria e inteligência, tinha sobre si a responsabilidade de cuidar do bem estar de toda a população; ele era o rei.

Muito embora naquele tempo já se soubesse da existência de outros países onde seus habitantes também viviam sob regimes semelhantes, estes tinham um grande diferencial, pois possuíam uma classe de cidadãos que possuiam um vasto conhecimento oceanográfico; eram exímios navegadores. Eles construiram enormes e resistentes caravelas. E com o passar do tempo foram adquirindo cada vez mais conhecimento e se aperfeiçoando de tal forma até se sentirem suficientemente seguros para se lançarem rumo ao desconhecido, desbravando aquele imenso e misterioso oceano. Sentiram que aquele seu mundo já havia se tornando pequeno demais para eles. Chegaram então à conclusão de que se fazia necessário sair em busca de novos desafios; 'Navegar é preciso!'... E pensaram lá com seus botões: “ Devem existir em além-mar tesouros inimagináveis em terras ainda não descobertas”. Levaram ao seu soberano estas suas perspectivas; e o rei simplesmente assinou em baixo. Então eles equiparam algumas das suas mais fortes e gigantescas caravelas e as supriram de tudo aquilo que fosse necessário para uma longa viagem rumo ao desconhecido. Coube ao rei determinar a data da partida daquela esquadra, nomeando os seus comandantes. Só que os responsáveis pela organização se esqueceram de um pequeno mas importantíssimo detalhe; a tripulação. Seria óbvio acreditar que ninguém em sã consciência seria louco o suficiente para lançar-se ao mar -que até então era supostamente tão infinito quanto o universo- em busca da conquista de possíveis tesouros, e ainda em terras desconhecidas, que sequer poderiam existir. Como resolver tamanho imbróglio? Então o rei teve uma grande idéia: Era costume naquela época se enviar uma grande caravana, via terrestre, cortando inóspitos vales e montanhas, para que após decorridos alguns dias, ou até mesmo meses, eles pudessem chegar até o outro lado continente, onde existia um antigo reino, onde eles costumavam comprar, ou trocar, as mercadorias e especiarias que a população muito apreciava. Então ele ordenou que os seus comandantes vendessem a idéia aos futuros marinheiros de que aquela missão seria apenas uma simples viagem até aquele reino, só que seria por via marítima, e que por isso haveria de ser até mais segura que pela selva, e muito mais rápida.

E não é que o plano do rei deu certo?

Mas como nem tudo seriam flores, surgiu um outro problema; aqueles possíveis marinheiros, que faziam parte da população mais humilde, eram muito ressabiados. E logo desconfiaram de que aquela tal viagem não era assim tão segura quanto o rei a estava pintando. Perceberam que os capitães e seus navegadores não tinham nenhum conhecimento de qualquer possível rota que os levassem àquele suposto reino; não tinham nenhum mapa. Chegaram então à conclusão de que se aceitassem fazer parte daquela empreitada, eles entrariam com o todo o trabalho pesado, mas não teriam sequer a garantia de que retornariam são e salvos. Nada feito!

Criou-se então um imbrógilo; sem a mão de obra dos marinheiros, nada de vigem.

Mas coube mais uma vez ao rei provar que era um sábio de verdade. Ele bolou um plano perfeito que haveria de agradar 'gregos e troianos'; mandou dispensar logo aqueles ressabiados insatisfeitos e, em seu lugar, mandou escolher e convocar um grupo de homens, jovens e fortes, entre aqueles criminosos condenados a vários anos de prisão, oferecendo-lhes em troca do seu alistamento, a total liberdade, dando-lhes como garantia antecipada, uma anistia ‘ampla, total e irrestrita’. Dizendo ainda que todos eles seriam recebidos com honras de heróis quando retornassem daquela histórica viagem. E o seu plano funcionou; depois daquele seu enfático e entusiástico pronunciamento, literalmente falando estava saindo tripulante ‘pelo ladrão’... E, diga-se de passagem, não é muito próprio se fixar no termo 'literalmente', porque na realidade aquele grupo de futuros heróis nacionais era formado, quase que na sua totalidade, de ladrões e criminosos. Aquele sábio rei sabia muito bem o que estava fazendo; com uma cajadada só, ele 'matava dois coelhos', pois enquanto se utilizava da mão de obra gratuita daqueles miseráveis criminosos, caso aquela empreitada não obtivesse o êxito almejado e eles jamais retornassem, o que não era impossível de acontecer; ele estaria se livrando daquele grupo de marginais, que era um 'peso morto' para a sociedade.

E foi assim que numa bela e ensolarada manhã primaveril, aquela cambada se pôs ao largo, rumo ao desconhecido.

Navegaram por alguns meses, até que num belo dia, ou seria num péssimo dia para nós, após uma noite inteira de bebedeira, um daqueles nauseabundos marujos, bêbado feito um gambá, subiu até o cesto da torre de vigia para tirar um cochilo. Aconteceu que com todo o esforço que ele teve que fazer para subir até lá, naquele que era o ponto mais alto da caravela, ele teve vômitos e debruçou-se à beira do cesto para vomitar; e assim o fez. Mas quando fez isso, aquele forte e fétido cheiro de alcatrão, ou cachaça sei lá, entraram pelas sus narinas e atingiram os seus olhos, que arderam como se estivessem com pimenta; automática e instintivamente ele levou as mãos aos olhos. Mas as suas mãos estavam imundas, cheias de terra que haviam se espalhado pelo convés depois de terem caído de um pequeno canteiro de hortaliças que existia no barco. E no exato momento em que aqueles seus dedos, imundos e cheios de terra, tocaram o seu olho direito, ele sentiu tamanha dor, que lá de cima de onde estava gritou com toda a força dos seus pulmões: “-Que ‘M’, Terra na Vista!!” Ora, alguns daqueles poucos marujos que ainda se mantinham ligeiramente sóbrios pensaram que aquele brado era do encarregado da torre de vigia, que lá do seu posto estava dando o alerta de ‘Terra a Vista’... E foi assim, graças a esta histórica lambança, que eles acabaram por descobrir esta terra maravilhosa que, do jeito que está, infelizmente está fazendo por merecer este título de 'república das bananas'.

Certamente que foi dali, a partir daquele momento, que começou esta nossa triste sina; afinal de contas a história diz que muitos daqueles marginais foram os ancestrais de grande parte da população deste país... Acredito até ser bem possível que sejam eles os ancestrais diretos; o tronco da árvore genealógica desses nossos políticos... Quem sabe?

E o que se viu depois desta lambança, já está devidamente registrado nos nossos livros de história. Se bem analisarmos, os últimos acontecimentos políticos, largamente noticiados, simplesmente corroboram esta minha tese e dá legitimidade a este título infame que denigre a imagem do nosso país, (Com letra minúscula mesmo!!!).

Mas falar desta politicalha, que assola impiedosamente o nosso País, já é assunto para uma nova história...

E.R.Calabar

Abril-2017