A DESPEDIDA DE UMA GUERREIRA

Minhas forças estavam minadas e, mais do que nunca, queria ter mãe, deitar-me em seu regaço e deixar-me embalar. Até Deus banira-me desse direito, levando-a, prematuramente, numa noite fria. Será que ela estava vendo o meu sofrimento, o que restara de mim?

Ainda estão gravadas em minhas retinas a última presença física do seu rosto amigo, das mãos inertes cruzadas ao peito no leito frio. Mãos que semearam, trabalharam, abençoaram, afagaram tanto! A lembrança do seu cortejo fúnebre...

O dia acabava! O sol esvaía-se na linha do horizonte, num matizado nesgado de cores pálidas, filtrando seus raios através do arvoredo em sombras rendadas, visíveis à margem da estrada. O esquife com os restos mortais de minha mãe era transportado ladeira acima, acompanhado pela fileira de carros que ziguezagueava pelas curvas, deixando para trás o casario, a vida agitada pelo convívio humano. Ficava para trás um lar vazio e uma saudade eterna. Embora a brisa daquele resto de tarde fosse amena, o filme impregnado de tristeza nunca desertou de mim. Era a despedida de uma guerreira! A última homenagem que a vida lhe fazia. Uma mulher simples que, além dos muitos valores, havia-me deixado sua coragem por legado.

Mesmo do outro lado da vida, o seu espírito, certamente, estaria ali a me acalentar. Inexperiente, eu precisava chorar.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 02/11/2005
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