Aprendendo cidadania.

Se é pra morrer de tristeza, vou fazê-lo com alegria

Num domingo já meio distante, pedalando pelas ruas, ví um desses catadores que esmiúçam sacolas de lixo em busca de algo que lhes renda algum dinheiro. Não sei se por intuição ou xeretice parei a bicicleta a uma distância que não inibisse aquele senhor de feições serenas. Sentado junto ao meio fio, com a sacola entre as pernas, pacientemente desatava os nós que a fechavam. Detalhe importante, esse. A preocupação em não rasgar a frágil sacola e espalhar pela rua o seu conteúdo. De proveitoso tirou da sacola apenas uma latinha de cerveja. Calmamente refez o nó fechando a boca da sacola, levantou-se guardando a latinha junto a outras tantas, num saco enorme que estava dentro de um carrinho de madeira. E lá se foi aquele homem, a passos lentos, empurrando seu carrinho velho e deixando um rastro de cidadania irretocável, majestosa. Parecia uma cena de cinema mas era real. Fiz uma pequena irradiação de agradecimento e saí pedalando, certo de que estava em muito boa companhia, aprendendo cidadania.