O mecanismo é ruim.

Porquê o mecanismo é ruim?

Depois de assistir ao mecanismo, série do diretor Padilha em exibição na netflix para mim foi díficil não pensar na dificuldade que o brasileiro tem de avaliar a própria história, mesmo a contemporânea, que está ainda fresca na cabeça de todos que acompanharam os últimos anos da nossa vexatória política. Essa miopia faz refletir, e denuncia as polaridades atuais da política tupiniquim. Baseada em achismos que envolvem por exemplo a história dos últimos séculos. Uma visão sempre enviesada das coisas, e mais parecida com o que se deseja ver do que com a realidade dos fatos. Para um lado e para outro. Veja, para um petista o que aconteceu em 1964 foi uma coisa, para um bolsonarista é outra tão diferente que nem parecem ter ocorrido no mesmo país.

Mas voltando a série e seus problemas podemos começar pelo personagem principal, que garante um ar de inverossimilhança a trama, um justiceiro cidadão que faz o dever da polícia federal, e que por motivos pessoais é a pessoa mais importante, e sem a qual a operação lava jato jamais teria acontecido. A população que tomou as ruas mal foi retratada, e a pressão que esta exerceu sobre os elementos da política nacional, e que foram responsaveis pelos seus desfechos sequer foi retratada. Outra coisa é transformar a corrupção em um mecanismo impessoal que atinge a todos de maneira indistinta.

O que é isso se não uma maneira de tirar a responsabilidade daqueles que se corromperam, uma vez que é assim que sistema funciona, não importando quem esteja no poder? Essa pelo menos é a minha visão sobre o assunto. Uma tentativa de tirar a responsabilidade dos políticos de estimação, afirmando que a culpa não é deles é do mecanismo. Não foi atoa que os colombianos reclamaram tanto do Escobar retratado por esse mesmo diretor.