O PARTO

Papel, caneta e as mãos, meus instrumentos de luta e trabalho, minhas armas. Palavras e gestos escritos e falados, doravante, não só ferem e matam; acariciam, enaltecem, libertam, constróem, sonham, choram, adormecem, criam e principalmente são a verdade.

Sou resultado do cruzamento de textos e poesias diversos. Sou nascituro das histórias de meu pai, de minha mãe e de meus avós. Histórias de família. Exemplos de família.

Germino na barriga das décadas de um mundo em evolução, ora romântico, ora real, ora pouco humano. Fui à escola montado num Jumento, vou via internet.

Meu pai: os Drummont, os Machado, os Veríssimo, os Chico, os Belchior, os Vinícius e outros mais;

Minha mãe: Gizelle (a espiã nua que abalou paris), as Cecília, as Dinah Silveira, as Raquel, a maladragem da esquina. Não tenho sexo. Sou heterosexual do momento, do fato, e suas dimensões.

Sou escritor. Meu Nascimento pode ser agora, minha mãe está sentindo as contrações, as dores.

Pela gestação de tantos anos, o parto será difícil.

Estou nascendo! Nos levem a escrivaninha mais próxima. Hum... Hum... ui... ai... ai... meu Deus. Os professores e assistentes: meus cordões, estão em volta da mesa – bisturi , caneta, tesoura, papel; - não, não, não; - caneta papel; - vai ser normal! – calma! calma! Fooorça! Sopra... Sopra... Sopra... – Fu! Fu! Fu! Ai! Ui! Fu! Ai! Meeeu Deus vai nascer. - Caneta e papel na mão. Foooça! Sopra! Ufu! Ufu! Ufu! Ai! Ui! Aaaaaaaaaai! Ufu! Ufu! Ufu! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa: escrevi. Coé...Coé... Coééééé! Ufi.. ufi... ufi... coééé… coééé..., ufi, coé, ufi, coé: liberdade.

Manuel Oliveira

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 23/09/2007
Código do texto: T665064