Filha.

Quantas noites, tardes ou dias, minha filha, chorei sozinho no escuro do quarto, em silêncio para que minha mãe, sua avó, não ouvisse?!

Quantas mensagens e ligações perdidas?!

Quantas vezes fui até o portão de sua casa, toquei interfone, chamei, bati palmas e até gritei seu nome e nada?! Lá dentro o cão ladrava. Eu sabia que estavam lá e por algum motivo que nunca soube, me cercearam o contato com você, minha filha! Meu peito aperta. Não acredito na Justiça! Não acredito nos homens! Acredito no bem! Somente.

Infelizmente a crueldade humana é uma coisa ilimitada e amarga. Rezam e oram aos seus deuses de barro para que esse mesmo deus perdoe suas crueldades, seus pensamentos e atitudes covardes.

Sua avó quer te ver, minha filha!

Seu avô quer te ver, minha filha!

Já estão velhos e doentes, e, assim como eu, incapazes de ultrapassarem as barreiras do castelo onde sua mãe te escondeu.

Queria acreditar que o mundo em suas voltas fizesse algo de transformador na mentalidade de sua mamãe, que talvez parasse por um minuto sequer e olhasse ao redor sem a viseira que lhe obscurece a razão.

Eu só queria que ela percebesse que o que está fazendo é uma forma distorcida e violenta de vingança por algo que só existe em seu coração amargurado. Que isso não se faz a uma criança!

Só quero ter o contato com você, minha filha, andar de bicicleta, brincar na praça, tomar sorvete, fazer cabana, passear na praia, assistir filmes, desenhos, jogar joguinhos que você gosta, te ajudar na lição de casa, te amparar em todas as situações... Meu Deus! Meu Deus!

Sempre quis com todas as forças estar ao seu lado em todos os momentos de sua vida, vê-la crescer, se desenvolver, te ensinar muitas coisas, mas por trás existem pessoas de um poderio aquisitivo e com voz mais alta e maior influência que eu.

Tudo errado!

Tudo errado!

Tudo errado demais!

Sua mãe não percebe que o ódio (sem fundamento) que ela nutre contra minha pessoa afetam negativamente nós três, principalmente você, minha filha, que é indefesa e totalmente privada do convívio com o seu pai.

Sofro, mas sou velho e aguento muitas vezes em silêncio engolindo lágrimas e soluços, mas você, minha filha, você é uma criança tão linda e pura... Meu Deus! Meu Deus!

Não sei o que se passa com sua mãe. Sempre teve tudo na vida, dinheiro, pompas, saúde e educação... Não entendo! Não consigo absorver essa situação! Chega a ser desumano o modo como ela busca com sangue nos olhos tolher nosso convívio. Não sei o que fiz para tantas mágoas... Se ao menos ela me dissesse: "olha, você fez isso e aquilo, vamos tentar corrigir...". Mas não! Há bloqueio, há silêncio e discursos de ódio a desconhecidos. E você, meu anjo, meu motivo de estar ainda vivo e resistir ainda mais, é a única inocente em toda essa história e paga, paga, paga, paga uma conta antiga que não fora por você contraída. Meu Deus! Meu Deus!

São 4:55 da madrugada e desde às 3:30 minhas lágrimas não cessam. Meu sono desapareceu há anos ...

Por que tanto ódio habita o coração daquela mulher? Por que tanto ódio habita o coração humano? Que contradição! Por que tanto ódio?

Por que faz isso?

Cadê seu Deus?

E a missa que frequentas todos os domingos, não lhe ajuda em nada?!

Pelo amor de Deus!

Não faça isso!

Não faça isso!

Mas hoje vou fazer algo diferente! Vou comprar uma fantasia de homem aranha, ir até lá, escalar o muro e tentar vê-la. Quem sabe assim se divirta um pouco ao me ver e ninguém me manda prender por invasão ao domicílio.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 21/05/2019
Reeditado em 21/05/2019
Código do texto: T6652499
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