Dia desses, saindo de uma loja de tintas, no município vizinho, (onde costumo me deliciar entre tantas nuances e pincéis de vários formatos, tamanhos e texturas), deparei-me, logo à frentre, com uma grande área verde. Muitas árvores, algumas frutíferas outras não, arbustos, flores e um campo aberto, onde pastavam livremente cavalos, novilhos e ovelhas.

Nesse pouco tempo que fiquei ali contemplando a paisagem, avistei uma plantinha, uma trepadeira muito peculiar que se enlaçava entre as árvores. Ao longo de suas ramagens se estendiam frutos amarelinhos, muito pequenos e perfeitamente esféricos. Mas o que me chamou definitivamente a atenção, foram as folhas, muito lindas e delicadas, em formato de borboletas.
 
Instantaneamente fui tomada de imensa curiosidade, não demorei mais do que dois segundos para colher uma das frutas. Cheirava a maracujá. Abrindo-a percebi que a casca era muito fina, e a polpa e as sementes eram iguais as do maracujá.
Não satisfeita, levei o sumo à boca, e foi quando tive uma surpresa, era adocicada, bem docinha mesmo, estava muito presente o gosto de maracujá, mas também carregava uma nota diferente, remetia -me à goiaba, talvez trazida de algum outro pé próximo, por onde suas folhagens teriam se entrelaçado, o que deixava ainda mais interessante a sinestesia, surpreendentemente gostosa !
Não tive dúvidas, juntei algumas que estavam pelo chão a secar e levei-as pro meu sítio.

 
Hoje pela manhã, sob o sol lindo que repontou após alguns dias de chuva, enquanto me deleitava às voltas da minha horta, dedicando-lhe aquele carinho especial e recebendo aquela troca gostosa de energia, nova surpresa : as sementes que plantei do maracujá haviam se transformado em lindas mudinhas. As borboletinhas saíram do casulo !
 
Coisa linda ! A natureza sempre nos presenteando !
 
Enquanto vislumbrava aquela profusão de borboletas, lembrei-me de um outro momento em que contava para um amigo sobre o dia que em que provei a frutinha. Lembro-me como se fosse hoje, do seu olhar de espanto e as palavras que me disse - Menina, como tu és corajosa, ehm !

A verdade é que na hora não pensei se elas podiam ser venenosas. Então hoje me peguei questionando - Teria sido coragem ou burrice ? - Talvez coragem, talvez burrice ou talvez só inocência mesmo.
O que me levou automaticamente a imaginar, sentado em alguma rede, ou numa cadeira de balanço, ou ainda à sombra de uma figueira, Ariano Suassuna sorrindo e escrevendo - " Não sei, só sei que foi assim " .

 






 
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 22/05/2019
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