BRASIL AINDA INCÓGNITO

1---CARTA (sem utopia de telefone ou e-mail): "Salvador, início de 1819..." (ih, já bicentenarizando - o mundo corre...) - destinatário: o rei Maximiliano I, rei da Baviera, o maior estado da Alemanha - emitentes: dois súditos ilustres, JOHANN BAPTIST SPIX, zoólogo, e CARL MARTIUS, botânico. Viajavam pelo Brasil desde 1817 (e a super aventura duraria até 1820...), com ainda um bom 'punhado' de terra a percorrerem. Haja chão! Valentes e corajosos! Na correspondência, mencionaram obstáculos e problemas de saúde acumulados país adentro, afirmando porém que não voltariam a Europa sem uma contribuição notória à ciência. Dito hoje e feito logo depois. Cumpriram a palavra e por três anos arrastaram muitas carroças ao lado de mestiços, sertanejos e escravos por 14 mil quilômetros, do Rio de Janeiro à Amazônia - recolheram muitos animais e plantas, alvos de sua (teórica?) formação acadêmica. Na caravana, descobriram um Brasil ainda inóspito. ----- A descoberta de um novo país! Ao início deste século XIX, os reinos europeus tentavam se consolidar como potências após expedições científicas pelas colônias africanas e americanas do Novo Mundo (meçam a ambição desmedida!)... na busca de minérios valiosos e recursos de fauna e flora, base para a criação de novos produtos... no Velho Mundo. Viagens mesclando interesses políticos + acadêmicos, na construção de nações cultas e fortes. ---- Boa parte do projeto de SPIX e MARTIUS foi improvisado, 'caronistas' na expedição que trouxe a princesa austríaca LEOPOLDINA que casaria com Dom PEDRO (I só em 1822). A Baviera não os enviou para a América espanhola por falta de recursos... ---- Para a dupla, tudo era novidade: não conheciam nenhum explorador antes deles, totalmente ignorantes sobre a população e era rudimentar o conhecimento geográfico - andavam e apreendiam tudo na marra (como um texano ante um iceberg norueguês). Pelos cientistas bávaros, resistência a eles, considerados novos inexperientes; e no Brasil, a rivalidade dos acadêmicos austríacos a quem só interessavam expedições curtas. ----- Livraram-se dos (maus) "companheiros" e decidiram explorar o país por conta própria. - Nos três volumes de "Viagem pelo Brasil", austríacos assinaram em conjunto, exaltando uma pretensa (!!!) superioridade dos europeus, os tais "aristocratas da Humanidade". Convictos de sua soberania sobre as outras "raças", os bávaros mandaram 4 índios a Munique, para aprenderem costumes europeus - dois morreram na travessia oceânica; entre 12 e 14 anos, rapazinho foi descrito como como "jovem esbelto de temperamento dócil", a menina, "criança estúpida", morreram um ano depois. Nenhum progresso... ----- Nas cartas, queixas da tropa "inculta e preguiçosa", mas que empilhavam os tesouros naturais nas cargas das mulas. Viagem prolongada das matas e lagoas do Sudeste aos confins da Amazônia, sacrifício sem mapas. Todos os riachos desaparecidos, enfrentaram o maior desafio, a estiagem na Caatinga. Mortas as mulas, perderam parte do material recolhido e a tropa sedenta-faminta usou água presa nas plantas; o oposto na Amazônia, o rio Tapajós entortara o curso fluvial e MARTIUS quase morreu afogado. ---- Após breve período, em abril de 1920, partiram de Belém e embarcaram dois meses depois para Munique, levando, entre outros itens, 8.000 espécies de plantas, além de insetos, moluscos, peixes, anfíbios, pássaros, mamíferos, minérios e esqueletos. ----- MARTIUS tocou ao violino composições documentando melodias populares e cantos populares. ----- Chegada dos naturalistas em ritmo de festa. SPIX voltara muito doente e não terminou sua parte no trabalho de registro do valioso material.........

2---MARTIUS, figura mais conhecida. Estudou o Brasil dos 23 aos 74 anos de idade. Acumulou dezenas de publicações, entre elas, a mais famosa, "Flora brasiliensis", concluída por três países após sua morte. Ele propôs a categorização dos espaços botânicos (hoje chamados ecossistemas) e organizou mais de 40 vocabulários indígenas (daí, hoje o estudo de tantas famílias linguísticas).

3---SPIX lamentou saudade das "maravilhas naturais" brasileiras X MARTIUS, pela odisseia tropical, sofrendo tantas e tantas dificuldades, definiu o Brasil como "um país tão rude e habitado por indivíduos maus... e que assim não é em absoluto uma viagem de prazer".

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LEIAM o livro "Martius", de PABLO DIENER.

FONTE:

"Uma incursão pelo 'Brasil inóspito' do século XIX", artigo de RENATO CHANDELLE - Rio, jonal O GLOBO, 8/12/18.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 26/05/2019
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