JEITINHO BRASILEIRO

Década de sessenta. Meus nove anos de idade eram insuficientes para a compreensão do certo ou do errado. Bastante atenta, mamãe me censurava pelas travessuras que no meu modo de ver nada tinham de condenáveis.

Eu não sabia de nada. Inexperiente àquela altura, buscava apenas entender o entorno de minhas brincadeiras. Como todo garoto, tinha amigos e inimigos e Carlinhos era essa figura do bairro que eu rotulava como adversário sem nenhum constrangimento.

Foi quando ele passou dos limites comigo, e enfurecido, corri em sua direção para a aplicação de poucos mas bons catiripapos. De imediato notei que na velocidade eu o perderia de vista. Não tive dúvida, peguei um pedaço de tijolo caído no caminho e arremessei como um míssil, atingindo em cheio aquela cabeça oca.

Meio zonzo, Carlinhos correu para dentro de sua casa. Bastante assustado e já esperando o pior refugiei-me nos fundos do meu quintal.

Não demorou muito para que a mãe do abusado viesse ter com a minha. Pouco tempo depois, eu soube que ele estava bem. E não deu outra, acabei levando uns bons cascudos de mamãe que me alertou sobre os perigos do meu ato.

Em outra passagem estilhacei a vidraça de uma janela lá de casa com um peão, daqueles com cordões. Tentei disfarçar, fazendo-me de desentendido diante de mamãe. Dei com os burros n’água. Assim que ficou sabendo papai veio tirar satisfações, e não demorou muito até que eu levasse uns bons e ardidos pitacos.

Já adulto, fui a um supermercado de São Paulo fazer umas comprinhas. Era um um período de constantes remarcações de preços. Governo Sarney. Havia umas maquininhas remarcadoras que etiquetavam novos valores nos produtos o tempo todo, como metralhadoras.

Notando a oportunidade, acabei invertendo a etiqueta do preço de um produto para outro valor bem abaixo do de um similar, da mesma gôndola. Eu havia burlado uma regra. Arrependido, decidi dar um basta naquilo revelando um padrão de comportamento que busco seguir à risca até hoje.

Como naquele dia, em que uma funcionária do caixa de uma loja de roupas errou para menos o total da minha compra. Não me dei conta na hora, mas quando cheguei em casa e notei o engano da profissional retornei imediatamente para os devidos acertos. Me senti aliviado pela atitude, fez bem à minha alma.

Não é raro nos depararmos com situações súbitas e tentadoras, um prato cheio para corrupção e maracutaias. Adotamos a postura de apontar nossos dedos para os políticos que sabotam, corrompem, roubam ou assaltam entidades e órgãos públicos para benefício próprio, mas vergonhosamente, nós mesmos cometemos inúmeras faltas ao longo da vida.

Como evitar isso? Vigiando nossas atitudes. Quando? Sempre! Onde quer que estejamos temos que nos vigiar. Certas vantagens, por menores que sejam, repercutem em grandes prejuízos a empresas e cidadãos.

Neste exato momento, você pode estar corrompendo e se tornando um vilão à semelhança dos que tanto condena. Difira dos demais sendo correto ou correta em suas atitudes. Nunca é tarde para recomeçar.