Ode à loucura

O que há por trás do que não vemos?

Daquilo que nos entorpece a razão e engessa nossos sentidos?

Optamos por não aprofundar o diálogo, porque geraria demasiado esforço, ou aquietamos nossos argumentos por temermos sermos feridos?

Uma angustia diária sufoca o peito, treme os lábios e dá cãibra nas mãos.

O coração acelera ao menor tumultuo. Para. Respira. Volta a pulsar descompassado.

Aceleramos o passo.

Voltar para casa, inteiro, tornou-se a maior aventura. Contudo, a sanidade se esvai, pouco a pouco, nas ruas.

O que há por trás dos muros? Das bocas sorridentes? Das mentes obscuras?

Diálogos acalorados a menor discordância. Infantilidades. Demência? Ignorância.

Amar é luxo em tempos de cegueira. A esquizofrenia coletiva é acalentada pelas arbitrariedades de um poder sem controle.

Receio tomar partido. Já não sou eu quem me sirvo, mas ao medo.

Algemas invisíveis que nos atam ao sistema que envenena e oprime.

O outro, antes terno amigo, tornou-se um estranho. Não o conhecíamos.

Insensato aquele que exprime o que sente. Sentimentos não são democráticos e opiniões, muito menos.

Em terra onde o mérito se destaca, a inveja abate. Foi sorte!

Viver de tal forma, assemelha-se a um tipo diferente de morte.

Quem não consegue lutar, foge. Porém, os botes são pequenos e poucos.

Ouço violinos num navio de loucos.

Um “amor” egoísta não permite que subas em minha plataforma salvífica. Não há lugar onde posso me espalhar.

Vejo o outro afundar em meio a discursos midiáticos de jamais largar sua mão. Uma distopia doente entre situação e oposição. Não há senso ou percepção do ridículo.

Um emaranhado de castas se arrasta e subvive das migalhas do pão dormido, que cai das mesas do inimigo.

Apenas resmungamos.

Volte ao terceiro parágrafo.

A interdependência, agora ignorada, dá permissão para cortar a corda bamba que a todos sustenta.

A esperança, lamenta.

Choramos solitários.

Nossos filhos não querem netos, mas a herança onde não haverão herdeiros.

A obscuridade dos valores fomentados em uma geração reprimida, deu vida e voz a permissividade, que assiste passiva e dá autoridade aos filhos da mesquinhez.

O curral foi aberto.

Invadidos celebram com os invasores.

A orgia está instalada em um circo de horrores.

Previsões atestam que a lona vai cair e não se ouvirão mais os risos da claque que santifica o profano. Não encontramos refúgio em um clero que cultua deuses assassinos, de fiéis que portam armas.

Sedentos de direção, desvalidos se encharcam de frases feitas, meias notícias, meias verdades.

Dá trabalho ler livros. A vida urge. Há filósofos fundamentalistas e sem o fundamental para isso.

Os botes já partiram e poucos sabem nadar em um mar gelado.

Ouço suspiros de enfado e cansaço.

Quero eleições! Mas, não há opções.

Indolentes, delegamos à outros a organização de um mundo ideal e ordeiro.

Não observamos que as chaves foram entregues ao porteiro dos banqueiros.

Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 01/06/2019
Reeditado em 04/06/2019
Código do texto: T6662088
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