MARILYN

Leleco era um gênio da raça. Misto de professor Pardal e Leonardo da Vinci ele alimentava o desejo de ganhar o Nobel de Ciências, no próximo ano. Marilyn, sua loiríssima namorada (cujo nome real era Marília), ria dele. Chamava-o de louco. Ele ironizava a garota dizendo que - ELE riria por último -, como no ditado.

Quando transavam, ela reclamava das pintas em seus seios e de sua cintura um tanto larga para uma garota de sua idade. Reclamava também de seu bumbum chapado, se comparado ao da musa do namorado, a Marilyn Monroe. Cansado do mi-mi-mi da garota, fechou-se no laboratório determinado a fazer um upgrade na garota.

Era uma terça-feira e Marilyn acabou dormindo na casa de Leleco. Acordou a certa altura da noite e notou a ausência do namorado ao seu lado. Lamentou o fato!

Ele sempre contabilizava o número de pintas de seus seios e outros pormenores, detalhadamente. Ela ria. Divertiam-se. Pela manhã, ao se levantar, rumou direto para a área da garagem. Bateu na porta do laboratório e ouviu a voz do rapaz lhe dizendo comedido:

— Entre aqui mas feche seus olhos.

— Veja lá o que vai aprontar, Leleco. Posso abrir?

— Pode. — Marilyn olhou e viu uma máquina maluca com botões, tubos de ensaio e luzes piscando.

— Prepare-se Marilyn, você agora poderá ter o busto, a cintura e o quadril da Marilyn Monroe como num passe de mágica!

— HA! HA! HA! Pirou de vez, meu caro! Isso é impossível, meu biotipo é muito diferente, meus cabelos, meu seio com pintas e meu bumbum chapado é…

— Não acredita, né? Pois saiba que nos últimos meses venho trabalhando adoidado e estudando tudo sobre a Marilyn.

Tive acesso a segredos genéticos e – secretos - da atriz e outras informações que pesquisei por um longo tempo.

— Alto lá! Você está me dizendo que essa coisa vai me transformar na Marilyn do cinema? — Claro que não! Você terá acesso aos parâmetros dela.

Porei uma gota de seu sangue na máquina que lerá seu código genético e espelhará em seu metabolismo os parâmetros todos do jeitinho que ela era em vida. Seu rosto será o mesmo, todavia, terá correções nas medidas do jeito que tem em mente. — Sério? Bumbum na medida, cintura fina e seios livres de pintas?

— Exatamente. Sem lipo, sem regime, nem milagre. Apenas a genética!!!

E assim, o jovem cientista fez a coleta de material e dados da namorada que teria acesso aos parâmetros da atriz: busto 91, cintura 60, quadril 86.

E as luzes piscaram freneticamente. Seria tal qual a Norma Jean Baker, ou simplesmente Marilyn.

Sua Marília tornou-se, do dia para a noite, a belezura em pessoa. No lugar dos defeitos, as virtudes. E muito mais. O clima esquentou entre eles. Viveram repetidas aventuras na cama com a silhueta dos sonhos. Tudinho de acordo com os parâmetros. Era só amor! Depois de um tempo ela engravidou, engordou e perdeu todas as medidas alcançadas.

No final de nove meses Marilyn deu a luz a um lindo bebê. Ficou feliz mas não reconquistou o mesmo gabarito, à exceção das pintas que sumiram por completo. Mas Leleco não desistiu. Reprogramou a máquina, ativou novos códigos e mais do que nunca está focado no Prêmio Nobel, que certamente virá no próximo ano.