A GATEIRA SENTIMENTAL

Bichos polêmicos são os gatos. Inquietos, espirituosos, escolhem quem querem amam. Só ama quem os merecem. Impõem uma relação de independência e afeto. E quando não cedem, chamam-nos de arrogantes.

Os donos de gatos costumam suplicar pelo seu amor, imploram pela sua atenção, e já viu algum gato ceder de pronto aos encantos de seus donos?

Já presenciei muitas cenas de donos de gatos clamando pelo amor recíproco do seu bichano, mas há muito tempo não presenciava uma cena tão sentimental, digo isso, pelas circunstâncias que se deram os fatos.

Primeiro, quando pensava em sentimentalismo me vinha à mente rompimento de casais enamorados, funerais, finais das novelas das oito, mas uma gateira sentimental? Ah! Isso foi uma cena memorável!

A gateira em questão é apaixonada por gatos. Um dia, após muitas ligações e entrevistas com futuros “papais gateiros” fora marcado a entrega de um ‘mini’ bichano.

O pequeno mal abria os olhinhos, era um filhote branco com machas pretas, o miado fininho, tão pequeno e indefeso. Ele nem imaginava que seu futuro estaria sendo acertado naquela sala de estar. As horas foram passando e de repente tocou o interfone.

---- Alô. Disse uma voz de uma mulher.

---- Somos o casal. Viemos buscar o gatinho.

Olhei para o meu lado e sentada no sofá estava a gateira. Ela olhava para o gatinho, suas lágrimas escorriam silenciosamente no seu rosto. Muitas coisas passavam pela sua cabeça ... o medo do futuro incerto daquele ser indefeso, tão miúdo, o medo do abandono .... Todas essas incertezas martelavam na mente inquieta da gateira.

O silêncio reinava naquela sala. Só ouvia o miado fininho do bichano. O sentimentalismo tomava conta do ar.