O Magrelinho e o pernilongo

Essa é a história de um pernilongo que declarou guerra a um rapaz, o magrelinho. Era um rapaz matreiro, veloz, gostava de comer fruta no pé, tinha fama de valentão entre a meninada do barro e ainda vivia com os joelhos ralados de tanto jogar bola com os amigos no terreno ao lado da mercearia do seu Zezinho.

Um dia, cansado de tanto brincar na rua, magrelinho voltou para casa. Resolveu deitar-se mais cedo naquele dia e ficou na cama esperando o sono chegar. Rolou, rolou e nada do sono chegar, até que conseguiu dormir. De repente acordou com um zumbido na orelha. “Ah, maldito pernilongo, me deixa dormir! ”, aparentemente o pernilongo cessara o zumbido e magrelinho dormiu a noite toda tranquilo.

Ao acordar percebeu que estava todo picado e sentiu-se doente. Logo ouviu da cozinha a mãe gritando: “Levanta menino! Vai perder a hora da escola! ”, como não levantava a mãe foi chamá-lo no quarto: “Magrelinho, larga de preguiça menino! Levanta que está atrasado para a escola! ”. O menino cobriu a cabeça com a coberta e disse com a voz entrecortada: “Não me sinto bem mãe, estou doente”!

A mãe conhecendo o filho disse: “AH, seu menino manhoso! Se tu estiveres mentido te darei uma corsa para aprender a lição! ”. Ouvindo isso, magrelinho ficou com muita raiva do pernilongo e resolveu também declarar uma guerra.

À noite, antes de deitar-se magrelinho ficou à espreita, verificou com muito cuidado todo arsenal que montou para eliminar o seu rival: veneno e um chinelo. Estava obcecado pela ideia. Após conferir o material e deixá-los a mão, Magrelinho enfim deitou-se. Passados alguns minutos ouviu um zumbindo, era quase uma zombaria, parecia que o pernilongo sabia do plano maligno de eliminá-lo e também se preparara para enfrentar seu rival.

Quando o avistou no teto do quarto iniciou-se o combate: o rapaz pulava, voava travesseiros, objetos eram atirados contra o pequeno pernilongo que se esgueirava deixando o rapaz com mais raiva. Por conta disso, Magrelinho resolveu tomar uma atitude mais drástica: espirrou tanto veneno que inundou o quarto escuro. Tapou o nariz com o lençol e esperou a morte certa do inimigo.

Esperou mais alguns minutos quando resolveu acender a luz para ver seu inimigo enfim derrotado. Olhou as paredes, o teto e logo atrás da porta estava o pernilongo. O bichinho agonizava, tentava respirar, lutava pela vida. O rapaz observava a cena, estático, quase com pena do pobre animal.

Mas, num súbito de raiva, lembrou-se da picada que o deixara tão mal, não pensou duas vezes, calçou o chinelo e esmagou fortemente o indefeso animal. Sentiu naquele momento uma sensação de satisfação e bem-estar…. Tinha ganhado a guerra contra o pernilongo. Após um tempo curtindo a sensação da vitória resolveu dormir.

Amanheceu. Logo ouviu o grito da mãe vindo da cozinha. “Acorda menino! Vai atrasar para a escola! ”. Magrelinho não levantou, sentia-se doente, um aperto no peito, um sentimento inexplicável... Ele não sabia a origem da tristeza... mas, no fundo lembrava do indefeso pernilongo agonizando. Não estava mais doente, estava de luto!

CLAUDIACHIARION
Enviado por CLAUDIACHIARION em 06/06/2019
Reeditado em 29/06/2019
Código do texto: T6666846
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