O Avarento

O brasileiro enfrenta sérias dificuldades financeiras. Sem garantia da subsistência, apela para a caridade alheia, expondo-se ao insultuoso ato da mendicância. Exceções existem. Muitas. Figuras do jet set tupiniquim, representadas por jogadores de futebol, astros da televisão, políticos, grandes empresários e renomados advogados, estão distantes do sufoco vivido por milhões de indigentes.

No Brasil, com a ascensão dos petistas ao poder, muita gente enriqueceu desonestamente. A escória vermelha saqueou empresas e fundos de pensão estatais, deixando à míngua uma legião de servidores. Mancomunados a partidos políticos desonestos, deixaram a viúva de tanga. Viúva, entenda-se, era a denominação outrora atribuída ao Estado brasileiro.

A investigação dos crimes de lavagem de dinheiro foi iniciada pela Lava Jato em 2014. Em sessenta e uma operações investigativas, a Polícia Federal cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão em casas e escritórios dos envolvidos.

Os bandidos de colarinhos brancos contrataram caríssimas bancas de advogados para defendê-los. Daí o enriquecimento vertiginoso de certo número de profissionais do Direito. Dos malfadados cofres da bandidagem migraram milhões de reais para os bolsos de renomados causídicos. Dólares em profusão, provenientes do escandaloso butim, quitaram milionários honorários advocatícios.

Beneficiários de vultosas propinas e seus respectivos advogados adquiriram casas luxuosas, mobiliadas com requinte; carros de marcas valiosíssimas; efetuaram viagens internacionais aos quatro cantos do mundo; degustaram as mais requintadas bebidas e saborearam destacadas excelências gastronômicas; e, ainda, contrataram lindas ninfetas para assisti-los sexualmente.

Rouba-se muito no Brasil. A impunidade estimula os infratores da lei a repetir a prática criminosa. A Justiça não questiona os advogados quanto à origem dos pagamentos que recebem a título de honorários. Ademais, não enxergar é próprio da Justiça, que, além de cega, parece surda.

Existem pessoas obcecadas por adquirir e acumular dinheiro. São os avarentos. Para elas, a medida do “ter” não enche nunca. Para justificar a sentença acima, de que a medida do “ter” não enche, conto a seguinte história:

Certo causídico, extremamente avarento, defensor de larápios do

dinheiro público, ao desembarcar de seu luxuoso automóvel Mercedes-Benz, teve a porta esquerda do veículo arrancada por um caminhão que passava em disparada.

O doutor desceu do carro furibundo. Aos gritos, reclamou ao guarda de trânsito sobre o estrago provocado em seu automóvel.

O guarda disse-lhe, em tom zombeteiro:

– O senhor reclama dos danos causados na porta do seu carro e nem se apercebe de que o seu braço esquerdo também foi arrancado?

O advogado, mais irritado ainda, perguntou ao homem da lei:

– E o meu relógio Rolex, onde foi parar?

A avareza é característica de quem tem apego excessivo ao dinheiro. O portador dessa anomalia, não raro, é mesquinho e despossuído de generosidade. Tal qual os políticos, que só querem para si. O povo que se exploda, já dizia o humorista Chico Anísio, de saudosa memória.