Quero Ver o Mar Antes de Morrer.

Quero ver o mar antes de morrer, disse minha avó dias antes de eu a encontrar morta caída na cozinha de sua humilde casa. Eu era uma criança de doze anos e só pensava em futebol e revista de mulher pelada. Vendo minha avó ali jogada no ambiente onde ela mais frequentava, foi um susto e tanto. Achava que era brincadeira, mas não. Infarto fulminante.

Minha avó teve uma curta vida de sofrimentos. Meu avô, seu esposo, um homem ríspido, rústico e bruto, era dos tempos onde homem não permitia que mulher trabalhasse fora, tivesse seu dinheiro, carteira de habilitação, amigas, roupas chamativas e outros mimos inerentes às mulheres e aos seus direitos, além de que a espancava com frequência. Eu mesmo presenciei algumas vezes, mas como criança, a única coisa que podia fazer era contar ao meu pai. Até que um dia meu pai tomou uma iniciativa e deu um ultimato ao meu avô: “nunca mais encoste a mão em minha sogra!” Nunca mais fiquei sabendo que meu avô havia batido em minha avó.

Depois de sua morte, meu avô arranjou outra mulher, mais nova, interesseira e maquiavélica que, por ironia ou tragédia do destino, já que não se sabe de nada além do agora, essa mulher o matou na véspera de Natal com uma barra de ferro, após beberem e discutirem. Meu avô dormiu e ela rachou sua cabeça com a maldita barra e fugiu sem deixar pistas. Uma incógnita até hoje nos meandros de nossa família.

Minha avó morreu sem ver o mar...

Aproveite a vida! Eu sei que é um cliché, que devemos aproveitar cada momento como se fosse o último, que devemos amar as pessoas como se não houvesse amanhã, como cantou o poeta Renato, mas, aproveite ao máximo cada momento bom. Afaste os ruins, tente resolver os problemas da melhor maneira possível, evite rixas, conflitos, inimizades, conversações desnecessárias sobre a vida alheia, atritos, rancores. Evite isso e siga leve como uma pluma sem rumo ... , ao dispor do vento...