Felicidade nas rótulas

Não foi boa a primeira hora da manhã daquela sexta feira de junho. Dor de cabeça, pensamento fixo em uma decisão a ser tomada, mormaço e a ausência do canto dos pássaros. Nenhum raio de sol para animar-me a pensar que o dia poderia ser diferente. Nada! Até mesmo o café não estava com o sabor de sempre.

Mas era preciso enfrentar a rotina que se impunha, sem reclamar.

Ao ligar o carro imediatamente liguei o rádio, como forma de atenuar aquela manhã sem sentido.

Na primeira rótula deparei-me com um papeleiro, dirigindo sua carroça, com olhar altivo e pele escura. Fitou-me e, em sinal de cumprimento, baixou a cabeça. Cumprimentei-o e, ao elevar o olhar, entendí imediatamente o porquê da altivez. No topo da imensa pilha de papelões estava um lindo cão de porte médio, curiosamente muito bem equilibrado, olhando para todos os lados como se estivesse fazendo guarda ao seu amigo. Uma cena emocionante!

Alí, justamente na primeira rótula comecei a mudar o pensamento.

Tanto o que falar sobre a cena, tanto a aprender.

Em poucos minutos a segunda rótula. Parei por não estar na preferencial, olhei para o canteiro que a adornava e nele, como se sorrindo, estavam passeando dois quero-queros. O que pensar?

Nesse momento o mormaço já tinha se ido e uma grande claridade já tomava conta da cidade.

Subí a avenida com a sensação de que as cenas foram encaminhadas para mim como sinais, sinais de que preciso parar, olhar, sentir. Que a vida tem me consumido por completo e que há muito por viver, há muitas manhãs para agradecer. Que apesar dos anos vividos ainda não entendo perfeitamente que a felicidade pode andar de carroça ou mesmo passear entre canteiros nem tão floridos.

17/06/2019

Rosalva
Enviado por Rosalva em 17/06/2019
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