O Futuro é dos Loucos.

Já me preocupei muito com o futuro. Desde criança crescemos aprendendo e absorvendo com nossa sociedade esta ansiedade pelo futuro. Normalmente tudo isso começa com aquela clássica e chata pergunta dos adultos às crianças: “o que você quer ser quando crescer?” Com coisa que o ser algo é uma obrigação inalienável e se você não escolher ser alguma coisa você será um nada, ou um “lixeiro”, como meus tios diziam para mim. Respeito a digna profissão de todos os coletores de lixo, mas era o que tinham a me dizer para tentar estimular a estudar e alcançar algo maior.

Os homens estão sempre concorrendo, e isso se dá desde que o mundo é mundo. Sempre há os que se gabam, ou por serem mais ricos, ou mais fortes, ou ter um carro melhor, um emprego melhor, uma mulher melhor, filhos mais lindos, melhores condições, harmonia e paz. Mas isso tudo é relativo. Pude, durante minha vida, conviver e analisar diversos aspectos da natureza humana. Já convivi em ambientes e com pessoas altamente requintadas, assim como já frequentei as mais perigosas empreitadas e as mais violentas pessoas. Todas são iguais! O que muda é a intensidade e o modo como enxergam os sofrimentos que a todos nós, vira e mexe, dá as caras e nos tenta arrastar para algum bueiro na esquina.

Convivi três anos em um manicômio no interior de São Paulo, não como interno, mas como analista, vamos assim dizer, mas na verdade o que buscava mesmo era compreender a matemática dos loucos, seus fundamentos (toda loucura tem uma justificativa!), e buscar, da melhor maneira possível, me comunicar por igual com aqueles delirantes. Foi uma experiência e tanto.

Também tive a oportunidade de conviver com pessoas altamente qualificadas e preparadas para a vida, as ditas pessoas sãs, cônscias de seus atos, e o que vi foi bem pior do que o presenciado no manicômio. Os “cônscios” são cheios de regramentos, sistemas, manias, métodos, rotinas, cronogramas, chatices e mais chatices. São pedantes e críticos ao extremo. Te derrubam facilmente sem mesmo que você se dê conta. Por isso os loucos são, a meu ver, mais objetivos, e, por incrível que pareça, mais lógicos do que os “cônscios”.

Não que eu queira me mudar para um sanatório, sou um louco controlado, com uma boa educação e arraigado em minha profissão, mas me foi muito mais salutar o convívio com esses delirantes, que bebiam cervejas todos os dias, dançavam e ouviam músicas alegres (era um manicômio aberto), do que com a frieza e tristeza dos ditos homens da razão.

Não quero mais me preocupar com o futuro. Isso me cansou. Ficar pensando em algo que ainda não veio e que talvez sequer virá, e muito menos do modo ao qual sonhamos, é uma tarefa além de tola, fastidiosa.

Estou aqui agora com as portas do meu escritório abertas nesta cidade quase morta pela corrupção e letargia dos políticos pátrios, olhando o azul do céu pela janela e pensando sinceramente em fazer uma loucura, mas ainda não defini qual. Talvez escreva um poema...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 17/06/2019
Código do texto: T6675183
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