O Ano que não era para ter Existido.

Agora o cara está lá com menos de cinquenta quilos, entupido de medicamentos, todo costurado e delirando com um câncer o consumindo. Ele se revolta com tudo, remói, chora e se pergunta o porquê Deus decidiu o levar aos 45 anos de idade, duas filhas de menos de dez anos, uma vida outrora promissora pela frente e que agora se acaba assim. Ainda restam menos de 10% de chance de sobreviver. Afinal, este é seu terceiro câncer. Os médicos indicaram que voltasse para casa. Em casos assim recomendam que fique com a família, que já não podem fazer mais nada, ou seja, pode-se dizer que já era.

Músico de primeira categoria, multi-instrumentista, cantor, compositor... E agora? Tinha tantos projetos... Um dos grandes amigos...

Este ano não tem me trazido boas notícias e muito menos bons momentos. Diferentemente de dez anos atrás, 2019 tem sido infernal. Em 2009 gravamos algumas músicas juntos, montamos uma banda chamada Alucinações Burocráticas, ganhamos uma boa bolada em dinheiro num processo em parceria, éramos bem casados, esposas maravilhosas, e conceituados perante a sociedade.

Hoje, enquanto ele está lá morrendo, e nesses dez anos que se passaram, me divorciei, fui à falência, me arrebentei de todas as maneiras, namorei, namorada largou, minha filha de sete anos se recusa a me ver, o que gerou processos e mais processos, tornei-me dependente de medicamento para dormir, ou seja, fodi-me também, porém em menor gravidade, lógico, já que pelo menos ainda tenho saúde.

No mais, não sei de mais nada além do fato de que não posso parar. Preciso resgatar os negócios e de uma namorada urgentemente! De preferência resgatar a antiga.

Preciso amar e ser amado, porque de resto nesta vida não se leva nada.

Dois mil e dezenove, o ano que não era para ter existido..., mas está aí e não tem como escapar. Ainda faltam seis meses... Talvez as coisas melhorem... Eu torço...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 18/06/2019
Código do texto: T6675738
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