GERALDO TETÉ, TUDO POR UMA DOSE

Como já disse antes, Várzea Alegre é uma terra rica em personagens folclóricos, que passam os anos e nunca sai do imaginário popular. Podemos citar, Maria Porteira, Bugui, Zefa da Bolsa, Xixica, Chico Danga, Zé Negão, Tonico, Pé Véi e o nosso homenageado Geraldo Teté.

Mas muitos desses personagens históricos, construíram a sua história, recebendo insultos da população, sendo enxotados e difamados, muitos por não gostarem dos apelidos que a população colocou e ficaram como uma alcunha por todas as suas vidas, com isso se eternizam no cenário folclórico do município, prova essa, que existem muitos desses personagens, que o povo de um modo geral não sabe os seus verdadeiros nomes, exemplificando: “Bugui, Degue-Degue dentre outros”.

O porquê Geraldo Teté tornou-se um personagem marcante no folclore do município? Pela sua maneira original de se expressar musicalmente, com um assobio forte e a mão debaixo da axila (sovaco) e pressionando saindo um som forte em formato de peido, daí fica como se fosse um instrumento, fazendo a alegria de todo pessoal que parava para lhe escutar, e ali lhe pagavam por sua apresentação, com doses de cachaças, cachaça essa que seria a razão de seu abreviado fim.

Pouca gente sabe e lembra, mas o nosso Geraldo já foi motivo de uma reportagem para o SBT local, causando admiração a todos que assistiram no estado, mas ele era desligado para essas coisas, ficava sempre na sua rotina, trabalhar e beber suas caninhas, e fazer o que mais gostava se apresentar nos balcões dos bares da sua Várzea Alegre, assobiando e peidando no sovaco.

Geraldo era uma pessoa benquista, não tinha inimigos, em todo canto ele era aceito, exceto por algumas pessoas que tinham ou tem ojeriza à cachaça, não suportando cachaceiros, mas ao nosso Geraldo essas pessoas eram minorias, e isso não baixava o seu astral.

Alguns anos atrás, num dos momentos de sobriedade , ele decidiu mudar de vida, parando de beber, arranjou uma companheira e foi morar em um sítio, tornando-se um agricultor, a gente o via raramente, somente nos finais de semanas fazer a sua feirinha. Mas, não sei qual o motivo, o seu casamento não durou, e ele estava de volta à cidade e pouco tempo depois, voltava a beber, e os bares o recebia novamente, com a sua alegria e seus trejeitos, que o consagraria por toda a sua vida, sua canção no sovaco.

Eu aqui não quero paragonar Geraldo com nenhum outro vulto varzealegrense, pois cada um tem a sua particularidade que o faz ser diferente, e chamar a atenção da sociedade em que convive. A cidade não é construída somente por políticos, religiosos e empresários, tem que existir essas pessoas, para quebrar a seriedade da vida, tão áspera e tão dura, que essas pessoas com seus jeitos diferentes, muitos deles com uma inocência, que às vezes sentimos dó, quando sabemos que elas foram ludibriadas por um alguém sem coração, que se aproveita de seu estado humilde. Por isso eu sou um defensor ferrenho dessas pessoas, quero um bem danado a todos eles.

Como muitos já sabem, o Geraldo não era filho único, seus pais tiveram seis filhos que são: Silvino (Silva), Carlito, Inês, Terezinha, Rosalina e o nosso homenageado Geraldo. Seus pais foram José Alexandre da Costa (Zé de Teté) e Maria Cavalcante da Costa. Esse nosso personagem era muito querido pelos seus irmãos por ser o único solteiro, morava com a sua irmã Inês. No período que estava doente, seu irmão Carlito veio a sua terra visitar seus irmãos e sobrinhos, vendo o estado que seu irmão se encontrado bem debilitado pela doença, não relutou e o convidou para ir com ele para a cidade de Maranguape onde ele morava, pensando ele que os ares da serra, seria muito bom para a sua recuperação, donde recebeu a resposta nua e crua do Geraldo: “Vou não Carlito, pois sei que não vou me acostumar longe de minha terra, aqui eu sou feliz e me sinto bem, se for pra se curar, me curo aqui mesmo”. Pouco meses depois, nosso Geraldo fechava os olhos pela ultima vez.

Minha ultima homenagem prestada ao Geraldo, foi no meu cordel “Varzealegrenses na literatura de cordel Vol. 2”, e a quadrinha foi essa:

“Geraldo Teté animado

Que saudade sinto agora

Com a mão no sovaco

Fazia música da hora”.

De minhas memorias afetivas, o Geraldo vai sempre está nas minhas elucubrações constantes. Pois todos tem que a consciência que essa vida é passageira, é como se a gente viesse a passeio, a trabalho, e logo teremos que retornar de onde viemos. Nosso Geraldo Alexandre da Costa nascido em 11/07/1949, na pacata cidade de Várzea Alegre no Ceará, viveu a vida dissolutamente, gozando sua liberdade sem compromisso nenhum, até que no dia 10/03/2006, nosso amigo, que tanto nos alegrou nos bares, praças e ruas, dormia seu ultimo sono, o sono dos justos, aos 56 anos se aproximando dos 57, bastante novo, no vigor da vida, mas consumido pela doença que o deixou abatido.

Poucos registros de vídeos se encontram dele, só alguns em um DVD produzido pela Secretaria de cultura do município de Várzea Alegre, na internet tem um antológico, ele e o Amadeu Neto se apresentando, ele no sovaco e o Amadeu na boca, por curiosidade procure assistir. Resumindo tudo que falei, o nosso personagem Geraldo Teté é pra nós uma eterna saudade.

Israel Batista

Ysrael Battysta
Enviado por Ysrael Battysta em 27/06/2019
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