O corredor

Por que os corredores de qualquer lugar são sempre frios, repugnantes, vazios e lembram a morte?

A sensação que tenho ao passar por esses caminhos é como se minha vida estivesse sendo ceifada. Tal qual um dementador da Saga Harry Potter, vem à minha mente toda a tristeza, a melancolia, as piores lembranças, a dor mais perversa que tenho em minha alma... O gelo do corredor gela meus sonhos, gela minhas alegrias e faz com que o meu pior mais intenso me domine. Quase que as minhas forças são menores diante dessa sensação, tudo se torna impossível, inviável, finito.

Os corredores lúgubres lembram-me a dor da perda e a espera dolorida da sentença final da vida, quando já não mais resta a esperança na ciência; lembram-me a oração desesperada e egoísta que ainda contém um sopro de esperança pela vida que se esvai, lembram-me o velar noturno e frio daqueles corpos inertes dos que amamos e partiram.

Não gosto de corredores. Quanto mais compridos, tornam-se ainda mais doloridos, gelados e traumáticos. É um longo processo de angústias e vazios que, sempre que possível, prefiro evitar.

Hoje, no entanto, deparei-me com um que não consegui driblar. Tive que encará-lo, tive que transitar por sua imensidão de metros impossíveis de mensurar, tal a sensação de inércia que me causou. Era tão frio, tão dolorido, e não tinha fim!

Depois de um tempo que para mim foi eterno – mas que não durou mais que alguns poucos minutos – cheguei ao meu destino exaurida, cansada, triste, desestimulada, infeliz e só, tão e completamente só, que minhas entranhas eram somente dor: doía-me o corpo, os ossos, meu coração palpitava descompassado, minha alma havia congelado.

Apenas consegui sentar, procurar achar o ar que me faltava e chorar todos os lamentos e perdas que o corredor abriu no portal de minhas dores. Nesses corredores não há estações de ano, nem tempo, nem espaço, só o vazio e a dor... e, com o vazio e a dor ainda permaneço, enquanto tomo um café quente e procuro elevar meus pensamentos e recentralizar minha existência sem a sensação lúgubre e nefasta que este passeio me causou.

Rosa Cristina Camara
Enviado por Rosa Cristina Camara em 10/07/2019
Reeditado em 25/09/2020
Código do texto: T6692981
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