Quando acaba a liga

Normalmente quando acaba o romantismo, num relacionamento amoroso, é porque durante o processo da convivência coisas aconteceram, que fizeram acontecer o desligamento os sentimentos que traziam união e desejo. Ou mesmo nunca houve mesmo o tal do 'amor que liga' profundamente......

Poderia relacionar um monte de situações, que podem levar ao fim de um relacionamento amoroso. Então aponto algumas:

- Traições; e não falo aqui somente traição com outros parceiros, falo de traição de negócios em conjunto, também, onde o que detêm mais poder no comando do dinheiro, rouba o parceiro, mesmo que tenham construído juntos, o patrimônio...

- Falta de empatia, quando já não sentem mais vontade de ajudar um ao outro, quando se torna um fardo suportar alguma debilidade ou doença do parceiro... Quando ouvir o outro deixa de ser interessante...

- Falta de simpatia, quando ser educado e gentil já não faz parte das ações diárias, então os maus tratos e desrespeitos se sucedem...

- Falta de gratidão, quando um faz muito e o outro sempre acha que não fez mais que obrigação... Porém não retribui gentilezas com educação e bons modos...

O que mais?... incompreensões, desrespeitos, falta de diálogo, falta de libido, falta de vontade de estar junto, falta de atividades em comum que possam unir e embelezar o relacionamento.

Ou mesmo, e tão somente, o tal do 'amor romântico' acaba... Ou ainda, nunca houve, realmente, de fato... Então a união durou o tempo que foi suportável ou necessário, e enfim chega um momento que ficar junto se torna um suplício, uma sacrifício, uma coisa que não faz mais sentido, que não mais trás benefícios nem sentimentos agradáveis...

Tem gente que 'carrega' relacionamentos ruins pela vida toda. Porque ainda tem o tal do 'até que a morte nos separe', como um grande motivo para não acabar um relacionamento que se tornou desagradável e sem sentido.

É claro que tem exceções e exceções, e uma delas eu diria é quando um dos parceiros fica doente, e então deve ser levado em conta o período em que viveram bem, para que a doação do tempo do parceiro são, ao parceiro doente, seja mesmo de carinho e retribuição.

Entretanto, tem relacionamentos que nunca foram realmente feitos de amor e carinho, era mesmo uma conveniência, para não ficar sozinho, por exemplo. Casamento para não ficar no 'caritó', eu diria....

Aí é mesmo um caso bem difícil, quando um o parceiro fica inválido, e a esposa tem que ser a enfermeira... E daí se apaixona por alguém... E deixar o parceiro inválido é uma questão amoral... Que a família inteira desaprova... Isso realmente é mesmo uma martírio, uma cruz pesada a carregar... Principalmente quando o parceiro debilitado não é agradecido... (Caso que conheço pelo menos um)... E o coração, a mente e o corpo da parceira, já não estão mais interessados na continuidade..... Triste de ver... Deve ser mais triste de viver, ainda...

Na minha visão de liberdade, entendo que um casamento, ou um relacionamento amoroso, deve durar o tempo que for interessante para as duas partes. Levar um relacionamento adiante apenas por medo de enfrentar as convenções, opiniões dos outros, ou medo de ficar sozinho, realmente é lamentável...

Tenho dez anos de separada do segundo casamento. Posso dizer que dos dois casamento (o primeiro separação há mais de 22 anos), no meu caso, ambos foram por necessidade de ter um apoio masculino.

Tiveram suas vantagens e desvantagens. E quando não foi mais interessante, as separações acontecerem meio que 'naturalmente'... Acabou! Separação/divórcio e fim!... Simples? Nada simples, por causa dos sentimentos, do apego que se desenvolve, mas quando não tem mais a tal da 'liga', nada mais 'liga', nada mais une, nada mais alimenta a união...

Então a separação é uma solução mais que necessária, é mesmo uma questão de sobrevivência e recuperação do amor-próprio, que costuma se desgastar com certos tipos de relacionamentos difíceis, para não dizer, ruins....

Posso dizer que, como a morte é inevitável, que quando ela vem nada podemos fazer, nem quem vai e nem quem fica, apenas quem fica tem que continuar vivendo a vida da melhor maneira possível... Porque do outro lado não é da nossa conta de vivos, saber como está, como continuou aquele que foi.

Quem morre, e é casado, deixa viúva ou viúvo... E o viúvo, fica solteiro, e casa de novo, se quiser, sem problema nenhum... é mesmo da sua própria vontade... Mesmo que tenha amado muito quem partiu, mas se a solidão pesa e a morte não é uma opção, pois deseja continuar vivendo, um novo casamento é sim uma coisa importante a se pensar, e acontece muito frequentemente...

Então, se a morte leva até um casal que se amou muito durante a vida toda. Se a morte não leva em consideração os laços de amor e amizade de um casal que se ama e é unido e construiu vida, patrimônio, família, com filhos, netos... Ela vem e leva um... E não adianta chorar nem se lastimar... Ou continua vivendo ou logo morre também.... Mas que a morte vem e leva, isso é fato!...

Então pergunto: porque um casamento que já não tem mais 'liga'; que se tornou um 'fardo pesado'... porque precisa continuar, até que a morte separe, pois se já estão praticamente separados, e muitos, vivendo de aparência, pois as afinidades há muito deixaram de ser um prazer ?...

Qual a lógica?...

Estou a dez anos separada, e estou até hoje sem companheiro, porque não quis fazer um casamento de conveniência. Casamento 'só pra não ficar só', não me interessa mais....

Tenho minha família, minhas filhas e netos. Não sou uma pessoa só...

E se for me casar novamente, será porque estou realmente interessada em tudo que posso dar e receber de bom, da pessoa que eu encontrar.

E a tal da 'liga' terá que ser uma real, tanto de corpo, pele, mente e coração...

Porque já não tenho mais tempo nem disposição, nem vontade de me unir a alguém que não me cause real vontade de estar junto, real atração, real desejo de amar e ser amada....

Separação é algo de nossos tempos modernos. Onde os jovens 'ficam com quem lhes dá vontade', sem maiores dramas, ou tramas...

Porém, muitas pessoas mais velhas ainda acham que separar é pecado e que viver um casamento ruim faz parte da vida, e que não se pode fazer nada para resolver, a não ser viver um relacionamento de mentiras, onde o prazer não existe faz tempo.... Porque a sociedade assim pede!

Se a morte não pede permissão nem licença para vir 'separar' as pessoas das pessoas, porque continuar com um relacionamento que não tem mais romantismo, alegria, graça?

Fico aqui, com os meus botões, pensando, tentando entender...

Sou uma mulher de 56 anos. Conquistei autonomia e independência. Sou livre, dona do meu corpo e dos meus pensamentos. Tenho muita consciência sobre o que é certo e errado. E pra mim, errado é viver situações traumáticas e não fazer nada para resolver.

Se separar é a solução, pois que aconteça.

Acho muito justo isso.

Relacionamento sem liga, sem romantismo, sem afinidades, carinho, respeito? Casamento por interesse, não por querer-se realmente?

Quero pra mim, não!