A leitura

A leitura

A muito tempo eu era admirada, buscada e amada.

Pessoas passavam tardes inteiras nas varandas , numa cadeira de balanço ou numa poltrona farta de forros.

Damas sentavam numa rede à sobra dos quintais e eu era a atração principal. O entretenimento absoluto.

Vivia no seio da sociedade e os intelectuais me reverenciavam assim como as madames.

Leram-me em abundância e virei Cultura literária.

O tempo passa com os anos e os séculos.

Pouco a pouco fui me tornando objeto de pesquisa em laboratório acadêmico chamado de biblioteca.

Era buscada como algo a complementar os estudos. Alunos tiravam dias, semanas em pesquisa e produção sobre assuntos que eu sabia entregar. Feito isso era, delicadamente organizada nas prateleiras bibliotecárias.

Saí do físico para o virtual, do imaginário para o visual e com isso perderam o interesse de me buscarem.

As coisas evoluíram e avançaram do cinema pra TV, pra internet e pra computadores de bolso.

Embora seja possível me acharem lá, já não sou procurada nem desejada.

Hoje vejo muito quebra cabeça no berço da educação sobre os alunos não gostarem de ler.

Como gostariam? Não têm o hábito em casa de verem seus pais ou outros parentes lendo. Não flagram seus professores lendo nada sobre nada. Como aprenderão o gosto por mim?

É férias, no momento. Qual seria o Professor que estivesse perdendo tempo numa gostosa leitura? Num romance de época? Num enredo interessante?

Minha irmã também foi esquecida. A escritura. Ninguém escreve mais nada. Também ninguém consegue pensar. Os pensamentos, os sentimentos estão, como mercadoria de consumo, nas prateleiras virtuais. Em novelas, filmes e seriados infindáveis.

Pobre de mim. A leitura e de minha irmã a escrita. Estamos fritas.

O resultado disso tudo é uma geração vazia de saber, pobre em cultura, cega em dias claros. Facilmente serão enganados. Na linguagem moderna; alienados.

Luta-se muito pela aquisição da leitura e da escrita, mas não é dado a verdadeira importância a isso.

Onde estão os leitores nas praças? Onde estão os leitores nos alpendres? As cadeiras de balanço têm ouvido algum conto? Algum romance?

Existe muita coisa em extinção. A leitura é uma delas e a escrita também. É tão sério isso que nem todo mundo que ler sabe escrever e nem todo mundo que decodifica sabe o que leu.

O vocabulário do povo é pobre, rude e vulgar.

Às vezes você ver uma pessoa que parece ter classe, mas quando abre a boca não tem vocabulário. Não tem cultura, não tem leitura, nao sabe desdobrar um raciocínio literário, pois nada tem nos arquivos cerebrais.

Estes, são, em sua maioria, os professores dagora. Que tipo de pessoas entregaremos ao futuro?

Certa vez uma turma de engenheiros montaram seu primeiro avião. A escola chamou todos os professores daquela turma para terem o privilégio de curtir o primeiro voou daquela aeronave. Só Que, antes do voo o comandante, sorridentemente desejou um feliz voou no primeiro voou daquela aeronave montada pelos alunos deles.

Quando os professores daqueles engenheiros souberam quem havia construído a aeronave, desceram todos e desistiram do voo.

Prezados atores da educação. O futuro de vocês é a aeronave que vocês estão ensinando aos alunos de hoje a serem os engenheiros de amanhã. Você se arriscaria voar, sem medo, nesta aeronave?

Volto para o meu calabouço e viverei esquecida, mas na esperança que um dia, algum dia alguma geração perceba que precisa de mim.

Saudosamente,

Leitura.

CARLOS JAIME
Enviado por CARLOS JAIME em 17/07/2019
Código do texto: T6698210
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