Eles não são mais os mesmos.

Se for se aproximar mesmo, todo mundo está enlouquecendo gradativamente. Estamos vivenciando uma nova era da "loucura", parecida com aquela da peste do gim que assolou Londres no Século XIV, só que agora a peste é tecnológica, virtual.

Com seus Smartphones, tablets e notebooks em riste, os homens estão se segregando e se individualizando cada vez mais. Preferem uma festa virtual a uma real. O sexo ficou virtual, as manifestações de apreço e congratulações em sua maioria viraram virtuais. Confraterniza-se mais do Facebook do que na forma dos antigos e tradicionais aniversários, Natais e Réveillons. Querem tirar suas selfies, gravar seus vídeos, mostrar que estão felizes mesmo lacrimejantes e sozinhos num quarto escuro, do que se encontrarem para conversar num botequim de esquina ou na padaria da dona Dorotéia.

O povo endoidou!

O nervosismo está latente e quase latindo na sua cara. A fúria tomou conta da maioria. O ódio se universalizou, a inveja se universalizou, o ataque aos outros por meio de redes sociais se tornou tão intenso que encorajou as pessoas, por mais tímidas, sensíveis e frágeis que fossem, a entrarem na roda e se mostrarem também como fortes e dentaduras, já que seus corpos não estão no local da discussão ou contenda.

Confesso que apiedo-me pelas crianças que nasceram e cresceram absortos nesta era tecnológica, sem a oportunidade de terem conhecido e brincado na rua, na terrarada, em um carrinho de rolimã, com estilingue e guerra de mamonas, pipas que se soltavam, desapareciam e eram motivo de uma caçada violenta pela molecada, um jogo de bete ou cadeirinha de salvar e outras centenas de diversões que só quem nasceu nas décadas de oitenta e no mais tardar noventa do século passado, sabe.

Eles estão enlouquecendo e vê-se nitidamente isso em seus olhares e modos comportamentais. Não são mais os mesmos.

Já pararam para pensar em vocês diante o Universo? Essa coisa sem fim? Quando morremos nossos corpos se decompoem e sua poeira levada pelo vento volta ao Universo, e lá vaga no limbo, até uma nova formação química. Assim, um novo você ressurgirá depurado em uma nova forma de vida, e assim sucessivamente, num "eterno retorno", até a purificação final, ou seja, a chegada ao paraíso, como gostam os religiosos.

Bom, chega de devaneio que daqui a pouco terei que atender um atropelado de moto por avançar o sinal vermelho (quer saber os direitos), um aposentado por invalidez que foi protestado indevidamente e uma senhora que morreu ontem e quer saber quais os documentos necessários para dar entrada no céu.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 18/07/2019
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