PETER PAN

Ansiosamente esperado pela família. O varão, temporão, depois de quatro meninas. Alvíssaras! Nasceu forte, bonito, gritando, exigindo as tetas da mãe, feliz e orgulhosa.

Seu nome seria Pedro, escolhido pelo pai, em homenagem ao avô, um honesto trabalhador e dedicado chefe de família. A tia, auto-eleita madrinha, professora de Inglês, decidiu que seria Peter, pois seu afilhado estava destinado ao sucesso, aqui e alhures . O pai insistiu, mas foi voto vencido.

Peter cresceu no aconchego de um lar estável. Um verdadeiro harém para servi-lo : mãe, avós, tias, irmãs, primas, amigas da mãe, as coleguinhas das irmãs, as vizinhas, a babá, a diarista. Todas diziam em uníssono : "Ele é tão fofo".

Aos quinze anos, Pedro, digo, Peter já havia entrado e saído de vários colégios , públicos e particulares. O professor de Português o perseguia por causa de suas faltas. A professora de Inglês tinha inveja dele, porque, graças à madrinha, ele achava que sabia mais do que ela. A professora de História disse que ele colou na prova e o de Matemática lhe deu zero, só porque ele entregou a prova em branco . Só inveja e perseguição, inclusive dos colegas. Poor young Peter !

Aos vinte anos, um perfeito representante da geração "nem...nem" : nem estuda, nem trabalha. Sem se importar com o preço do pão nosso de cada dia, do tênis, do jeans e da camiseta de marca. Passa o tempo no Face, nas redes sociais trocando "ideias" com os seus assemelhados. Sempre acalentado pelas mulheres da família. "Ele é tão fofo". O pai tentou reduzir o seu poder, mas...

Aos trinta anos,sem largar as tetas da mãe, já havia passado por vários empregos, conseguidos por influência da família; seis meses aqui, seis meses ali. Em todos, alegava problemas de relacionamento com o patrão, os colegas, o motorista do ônibus, o garçom do restaurante, etc. Todos invejosos. A namorada grávida, não por culpa dele, foi trazida com malas e barriga para ser cuidada, mimada, sustentada pelas suas mulheres. Afinal, é o filho do Peter. O pai resolveu tirar o time de campo: morreu.

Aos sessenta e cinco anos, Peter recebeu o cartão de gratuidade e se candidatou a uma aposentadoria social.

Na mesa do bar, o divã do carioca, derramando lágrimas de crocodilo, conta que nunca teve sorte na vida, que ninguém lhe deu uma oportunidade, que poderia ter feito grandes coisas, mas a crise econômica e social, a alta do dólar, o destino, a inveja dos falsos amigos ... Poor old Peter.

Em um programa de televisão, minha diarista ouviu um especialista explicando que o medo de enfrentar as dores do crescimento é um dos sintomas da Síndrome de Peter Pan. O culpado é um homenzinho que mora na nossa cabeça, o tal de Inconsciente. Surpresa, comentou :

- Vige, Maria! Quer dizer, então, que preguiça e safadeza mudaram de nome ? Oxente !

Malinche
Enviado por Malinche em 23/07/2019
Reeditado em 28/07/2019
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