O Bonde

O Bonde

Tendo passado mais de quarenta e cinco anos, ainda hoje me recordo, com uma leve nostalgia, daquele meio de transporte que utilizei por algum tempo: – o Bonde.

Este meio de transporte ecologicamente certo que durante tantos anos nos serviu e de repente foi substituído pelo ônibus, verdadeiro trambolho para nossas vias urbanas além de grande responsável pela poluição e pelos engarrafamentos, a meu ver, deveria estar novamente circulando em nossas vias.

Quem viveu naquele tempo vai se lembrar do quanto ele foi importante e como marcou nossas vidas.

No interior dos bondes vários cartazes coloridos, instalados acima de suas janelas, nos mostravam algum produto e onde podíamos adquiri-los. Era ali, o local ideal que os anunciantes encontraram para fazer suas propagandas.

O bonde elétrico, por ser aberto, tinha suas cortinas de lona baixadas nos dias de chuva, todavia mesmo assim saíamos molhados, mas ninguém reclamava seriamente. Com somente dois eixos centrais, fileiras de bancos transversais extensos a ambas as extremidades do veículo, estribos, balaústres e freios à manivela, lá iam eles nos conduzindo, com absoluta segurança e relativo conforto, a todos os cantos da cidade. Lá, estávamos felizes a cada viagem. Os condutores responsáveis pela direção costumavam usar um pedal para tocar um estridente sino como buzina a alertar nos cruzamentos, aos veículos pedindo passagem uma vez que não saiam dos trilhos ou aos passageiros anunciando a partida do ponto.

Vários bairros eram atendidos entre seus percursos, que praticamente recortavam toda a Cidade. Uruguai – Engenho Novo. Este era um dos muitos trajetos feitos pelos bondes existentes naquela época. Nele eu ia e voltava todos os dias para o colégio. De graça, é claro, pois o calote fazia parte da vida estudantil, ato esse que deixava inteiramente loucos de raiva os responsáveis por receber as passagens. Desses bondes, quando parados nos pontos, os condutores e cobradores muitas vezes saíam correndo atrás de quem não pagava o que fazia da viagem bem mais excitante para nós adolescentes. O mais impressionante era como o funcionário conseguia identificar quem tinha, ou não pago, mesmo nos horários em que a quantidade de passageiros era maior. Já existia o maldito “rush”.

Viajar de bonde era fascinante, pois a impressão era igual à de um passeio de trem. Posso garantir que era muito bom andar nos estribos do bonde; o vento batendo no rosto aumentava a sensação de liberdade, sem contar o prazer causado por saltar e pegar o bonde andando, fazendo disso, algumas vezes uma forma de aparecer para as meninas do colégio. Quanto maior a velocidade imprimida pelo bonde mais difícil era de se saltar dele, porém mais impressão era causada na assistência e tornava um desafio há cada vez maior fazê-lo.

Sim, era muito perigoso, mas divertido. Subir e descer com o bonde andando era sinônimo de esperteza e habilidade, mas quando alguém escorregava e caía, era uma gozação só. Nos horários de rush, era comum o estribo ficar apinhado com tanta gente.

Vivenciei vários acontecimentos interessantes que marcaram época, alguns tristes e outros violentos, mas indiscutivelmente foi nele que também me distraí diversas vezes durante os carnavais. O lugar preferido para viajar nessa época quando não se estava no estribo era a "cozinha" (apelido dado à cabine de traz do bonde). Neste local mais amplo se podia fazer bagunça, rir e brincar sem nenhum risco.

A cada dia que passa e vejo o caos existente no trânsito, acredito que seria uma ótima ideia a volta deste transporte simples, mas eficiente desde que modernizado é claro. Se em alguns lugares na Europa eles ainda funcionam e muito bem, por que não, aqui também?

Teríamos menos carros e ônibus nas ruas e com certeza estaríamos contribuindo para uma melhora do meio ambiente.

15/02/03

Editora AG - Classificação do XXVII Concurso Internacional Literário - Março 2009

O bonde - 11º lugar

Convidado a participar do lançamento de sua coletânea com a crônica: - O bonde

Via Literária – Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro edição 2009.

O bonde – 6° lugar

Convidado a participar do lançamento de sua coletânea com a crônica: - O bonde.

***

Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 16/08/2019
Código do texto: T6721757
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.