Um gari

Da minha sacada vi a cidade amanhecida. Depois de erguer meu corpo, me alimentei e pus-me a realizar os trabalhos da casa. Terminando-os desci a ladeira, fui ao centro comprar mantimentos.

Dentro da verdureira, já com as sacolas na mão, na fila do caixa, observo o estacionamento da matrix apostólica romana, e lá estava, o gari.

Sob o sol, negro, com seu boné sobre um gorro, mangas compridas, trabalhando, de um lado para o outro.

Um impulso me leva a murmurar uma canção que, imensamente intuitiva, soou de maneira mágica; uma valsa. O que eu via, nessa sinestesia, era um gari dançando no labor, ao som dos meus lábios. Que encanto!

Me dou conta de meu deslumbre e me desligo desse instante, dou passagem ao momento presente, ponho minhas sacolas sobre o caixa, pago a conta e sigo pra casa, me acostumando com a fugacidade da percepção do infinito.