ELENICE POR ELENICE.

Tenho, nos últimos tempos, sofrido perdas doloridas e contínuas. Dessas para as quais nunca estamos preparados, por mais que saibamos que mais cedo ou mais tarde, acontecerão. No cronograma do meu amigo tempo, passam-me as horas, ora esperançosas, ora assustadoras. Quando ainda menina, a cada bom acontecimento, colocava-me à espreita; algo de ruim está por vir. E vinha. Parece que os bons momentos cobravam por suas rápidas aparições. E, arrependidos, partiam...novamente, deixando lágrimas e apagando os sorrisos. Parecia que a felicidade exigia um preço, um pedágio pela rápida passagem, excedendo minhas condições de pagamento. E dívidas foram-se acumulando ao longo de tantos anos. Paguei caro por tão pouco. Paguei, às vezes, sem ao menos, saber qual era minha dívida. Paguei por erros alheios da incompreensão, da insensatez, da insensibilidade, da falta de amor. Paguei caro pelos meus próprios erros, quando, por vezes, fugi de promessas bem intencionadas, da ajuda sincera, da palavra amiga, do medo de amar. Aprendi, no entanto, que nunca estamos sozinhos. E somos amparados e confortados quando achamos que nada mais faz sentido. Na hora e no momento certo. Sobretudo, aprendi que o maior amigo com o qual podemos, quase sempre contar, mora em nós mesmos. E usa de procedimentos de ressuscitação a cada fraquejar; nos sacode o corpo e nos acorda a alma, em cada amanhecer. É vida que segue, na alegria, (com ou sem pedágio) na tristeza, (que seja sempre passageira) na busca e no encontro com o outro e com nós mesmos.

Elenice Bastos.