Reencontro

Noite alta. As poças d’água refletem o brilho do néon, rascunho da noite.

Meus passos me levam a lugar nenhum, mas sigo assim mesmo. Uma ânsia absurda e incômoda vai se instalando devagar num peito já ferido. Retalhos da letra de uma canção me perseguem insistentemente, não dá pra controlar. Maço vazio no bolso, isqueiro inútil. Inútil existência. Onde o elo se rompeu? Houve realmente ligação? Pela milésima vez acendo um cigarro imaginário, trago profundamente o ar gelado e expiro angústia. Acho que procuro por mim mesmo. Já procurara em outras pessoas, em outros lugares, em todos os lugares. Mas me descobri aqui. Quietinho dentro de mim. Um dia fugi e nunca mais me encontrei. Agora eis aqui o fugitivo. Encolhido, um tanto envergonhado. Testemunha muda de uma vida sem sentido. Covarde espectador dos próprios desencantos. Estou precisando de mim. Mas não sei como começar. Fico na espera, e eu na espreita. Olho-me nos olhos e eu me olhando de soslaio. Resolvi ser complacente, me ofereço o abraço, mas tento me esquivar. Preciso do perdão, mas insisto em não perdoar. Preciso de compreensão, vou compreender. Uma conversa franca? Aceito. Já era tempo de me reencontrar. De me perdoar. De me aceitar. De me dar uma nova chance. Abraço-me e descubro o calor do reencontro, a alegria de descobrir que posso me amar. Que só precisava desse reencontro. Tenho muito que conversar comigo, alguns acertos e muito o que recuperar, mas finalmente estou em paz comigo mesmo.