DAS QUEIMADAS À BUFA DO BOI

Nos últimos meses o que se diz na mídia e nas redes sociais sobre políticas ambientais no Brasil tem ganhado dramática preocupação. A cada dia, é maior o volume e o eco do desespero de ambientalistas em razão do crescimento das queimadas e de incêndios florestais no Brasil. O governo federal faz ouvido de mercador, foge do problema e rebate a esse clamor com rasteiro discurso galhofento de viés meramente político-partidário.

O assunto é sério! Merece mais que o zelo que se dá à oscilação dos índices da bolsa de valores, do câmbio monetário ou do suposto crescimento de forças políticas adversárias escamoteadas nas nuvens. O surto de queimadas deste ano extrapola qualquer desvio-padrão da normalidade ambiental. Obrigatoriamente não carece ser biólogo nem meteorologista para se reconhecer como causa desse fenômeno a elevação da temperatura no planeta e sequelas daí advindas: estiagens mais severas e prolongadas no bioma do cerrado e nos ecótonos deste com a floresta amazônica. O pior é que essas queimadas desidratam dramaticamente a atmosfera e a biomassa, o que leva a mais queimadas e termina por alimentar um ciclo vicioso que urge ser quebrado aqui e agora.

Mais criminoso ainda é o processo de extração de madeira com a derrubada de árvores nativas da floresta, seguido de queima para eliminar tocos, resíduos e, quando muito, aproveitamento da área desmatada como pastagem.

Somem-se a isso o discurso irresponsável de gestores públicos ao supervalorizar a riqueza do subsolo inerente aos minerais raros e desvalorizar a riqueza biológica enraizada na superfície desqualificando-a como estorvo à obtenção da primeira.

Esse bestial raciocínio só faz sentido num contexto onde tudo na sociedade gira em torno do dinheiro. É o satânico modo de pensar de quem perdeu o correto referencial do bem estar e da responsabilidade governamental por sua oferta: boa e saudável moradia; transporte coletivo confortável, barato e, de preferência, gratuito; disponibilidade alimentar accessível e de qualidade; oferta de trabalho com justa remuneração e segurança empregatícia; universal e bem qualificada oferta dos serviços públicos de educação e saúde; acesso facilitado aos eventos culturais, de lazer e de agregação social e outros tantos elementos que propiciam a alegria de viver.

Tudo isso foi substituído pela conversão de cada passo em valor monetário, em operação bancária, em corretagem cambial, em bolsas de valores e atividades de usura. Por exemplo: que sentido faz hoje perguntar ao amigo: “como vai? Você está bem?” Cabe mais indagar-lhe como vão seus negócios e qual a saúde de sua conta bancária. Até os inocentes miúdos que dantes brincavam de “bater bafo” nas calçadas com figurinhas de álbuns, agora disputam cédulas, notas, dinheiro e jactam poder quando conseguem bom acúmulo dessas moedas.

Tempos atrás era normal orientar-se o investimento para atividade produtiva rentável e socialmente justa: comércio, indústria ou prestação de serviços de boa qualidade. Coisa superada pelo novo foco na rentabilidade de papéis e sua mudança de mãos na bolsa de valores. Com isso, minimizaram a necessidade de consultorias econômicas complexas. Agora é só perceber os rumos dos índices econômicos.

Veja o que andam dizendo e não é piada: o valor negativo da bufa do boi para o efeito estufa do planeta e, mais, que deve ser contabilizado por economistas e ecologistas em suas planilhas. E, em cima disso, sugeriram que a humanidade deve reduzir o consumo de carne vermelha. Condenando, desta forma e injustamente, os suínos, ovinos e caprinos que não bufam tanto quanto os bovinos e até o fazem em menor volume que os humanos, com certeza.

Ora, ora, ora! E as guerras? Um só bombardeio diário trocado por Israel e seus vizinhos equivale a quantas bufas de boi? E o estrago atmosférico, sem contar o humanitário, resultante de bombardeio entre forças sírias e adversários? Isso sem contabilizar os milhares de testes com foguetes balísticos e outras armas. O dióxido e o monóxido de carbono liberados pelos jatos mantidos no ar em vigilância contra fantasmas de inimigos? Sem parar por aí: o gás liberado durante a extração de petróleo, das chaminés de fábricas de plásticos e outros venenos? Isso tudo sem falar dos estragos ambientais causados pelas bombas atômicas assassinas explodidas nas cabeças de inocentes em Hiroshima e Nagasaki, “em nome da paz (???)”.

Se todos essas atividades, perniciosas à atmosfera e à vida, não são contabilizadas como desgraças ambientais e adversidades a uma vida feliz e saudável, por que condenar a bufa do boi? Igualmente é descabida a recomendação de não se comer (ou comer menos) carne vermelha. E outra pior recomendação, esta de horrorosa imbecilidade: que se defeque “dia-sim-dia-não” em nome da ecologia.

Antes de se culpar o churrasco, o quibe e o estrogonofe pela desastrosa situação ecológica que experimentamos, mais exequível e recomendável seria reduzir – queira Deus a zero – o consumo de combustíveis fósseis e a competição bélica forjada na suposição de inimigos traiçoeiros.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 24/08/2019
Reeditado em 24/08/2019
Código do texto: T6727918
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