Um anjo a menos no mundo.
Aquele caminho que não se encontrava o destino nunca !
Os passos lentos e pesados, os olhos inchados, escondendo as lágrimas que denunciavam a dor, a culpa, o remorso.
Foi uma questão de escolha estar ali. Talvez pra tentar amenizar a sensação de conivência e crueldade.
Jardim da saudade !
Antes não tivesse ido. Antes não tivesse tomado parte.
Antes eu não tivesse nascido pra estar sentindo tudo isso agora.
No coração, infinitos coágulos atropelando o sangue que me dilatavam as veias ... e os pensamentos.
Nos braços, um pequenino caixão branco. Era leve, não tinha um milésimo do peso que meu corpo sentia naquele instante.
Tantos rostos passando por mim, com lágrimas sendo derramadas. E eu, firme no caminho que nunca chegava ao destino.
Por algumas vezes, tentei levantar meus olhos e olhar o céu. Mas senti medo.
O mesmo medo de ter que olhar naquela tão pequenina caixa em meus braços.
Enquanto caminhava, milhões de pedidos de perdão me passaram pela garganta, enquanto lâminas afiadas me rasgavam o peito e a alma.
Você estava em meus braços, eu te carreguei em meu meu colo e até tentei deslizar minha mão sobre aquela caixinha de madeira, como se fosse possível, diante de tanta culpa, demonstrar algum carinho.
Enfim chegou o destino do longo e torturante caminho.
Uma cova aberta, um montinho de terra cobriria pra sempre estes instantes...
Entreguei o caixãozinho ao moço que não me olhava nos olhos, mas soltou a frase fatal.
-Deseja se despedir ? E abriu a caixinha.
Meu Deus, porque eu fui olhar seu rosto ?
Eu te conheci, eu vi sua face de anjo, vi sua boquinha tão pequenina, seus olhinhos fechados para o mundo e suas mãozinhas perfeitas sobre o peito como quem parece estar em paz...
Eu não vou te ninar, não vou brincar de bola com você, não vou cantar pra você dormir e nem vou te levar pra tomar sorvete nas tardes de domingo.
Eu vou apenas lamentar e definhar pro resto dos meus dias a dor, a culpa e o remorso de ter ajudado a tirar de você, o que me falta agora; A vida.
Ana Beatriz