Divorciada

Estou divorciada. Esse é o meu estado civil no momento. Não aguentei o casamento. Sofri demais. Peguei minhas coisas e parti. O marido nem se importou, com certeza não sente falta. Ele não perguntou aonde eu ia, nem se voltava, sequer olhou a porta quando fechei. Ele lá ficou no sofá, o mesmo que limpei várias vezes, que não pude sentar por um minuto.

Divorciada. Hoje estou livre. Aos filhos pago pensão alimentícia. É o mínimo. A mulher que dedica sua vida inteira ao casamento, ao marido e filhos, quando desperta dentro de si mesma se enche de coragem, encontra liberdade e luta para conquistar o mundo, o seu mundo.

Hoje eu sei que a felicidade não mora numa casa limpa, que não está no fundo de uma panela. A felicidade está na vida. Está em mim. É que me casei com o Mundo. Casei-me com o perverso Mundo.

Com muita facilidade ele assinou o divórcio. Realmente não faço falta. Hoje eu vivo liberta dos seus caprichos e vontades. Eu vivo a minha vida, como nunca vivi.

O Mundo fez-me sua escrava, serva dos seus anseios. Eu não vivi. No final do dia ele me dava uma flor e achava que tal coisa compensava tudo. Uma flor, para ele, descontaria o sofrimento. Coitado dele. Ou de mim, que amei um Mundo que não existe. Eu amei o Mundo, amei de verdade o Mundo inexistente. Eu amei àquele que a mim se apresentou. Antes do casamento ele me fazia sonhar, a gente observava as estrelas e ele demonstrava amar-me, deixava-me livre. Eu acreditei. Sonhei. Amei.

Hoje eu sei que apenas estive iludida. E não, não vale mais a pena. O que passou, foi. Mundo é Mundo, hoje está a procura de outras mulheres. Que homem!

Hoje meus filhos chegam precisando de afago, perguntam-me muitas coisas. Mas não, eu já não sinto mais nada. Estou nessa fase. Insensibilidade. Insensível. O Mundo deixou-me assim.

Tenho pena dos nossos filhos, vivem brincando numa gangorra. Nossos filhos estão como bolinha de ping-pong. Os filhos, eles machucam-me por vezes, e em outras, dão-me alegria. Mas não sinto nada. Só por mim. Estou divorciada. Livre. É uma pena que os filhos ainda nos unem. "Nossos". Apesar de não sentir mais nada, dói-me usar esse pronome possessivo. "Nossos".

Os filhos. Alguns são mais dele do que meus, outros mais meus.

Estou divorciada. Livre.

2018