Nada mudou.

Confusão, lágrimas, suspiros, saliva, dentes, cabelos, dor. O corpo tremia encolhido na cama, nem todos os cobertores do mundo tirariam aquela sensação de frio, nem todas as lâmpadas do mundo lhe tirariam da escuridão.

O choro aumentava progressivamente, noite à dentro, os soluços eram traiçoeiros, os olhos já nem se davam ao trabalho de piscar, tudo parecia desfocado no quarto de paredes mofadas, nada parece confiável. Na cabeça não parava um só pensamento, lapsos de memória são misturados às ilusões baratas que sua mente insiste em criar, surtou.

O controle da televisão foi arremessado de encontro ao chão, os pais acordaram, náuseas. Vozes confusas e pensamentos deturpados lhe assombravam, não sabia distinguir o real do imaginário, conseguia escutar os pais perguntando o que estava acontecendo, ou o que ela tinha, mas tudo estava confuso demais.

O que você tem? Não sabia. O coração batia forte, estava sufocando. O que você tem? Não sabia. Tudo girava, achava que iria desmaiar. O que você tem? Não… sabia. Assim como Graciliano não sabia do cinturão, ela não sabia o que tinha. O que você tem? Pare, por favor. O que você tem? Ela não vai aguentar por muito tempo. O que você tem? Nada.

Naquela manhã, ela acordou, o quarto estava arrumado e as portas abertas, foi até a janela e viu o sol brilhando com toda a sua grandiosidade, nada mudou, nem mesmo o seu estado e a pergunta ainda ecoava em sua mente, o que você tem?

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 05/09/2019
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