SHAMPUADA

Quando eu era criança, algumas vezes vi a cabeleireira em casa da minha avó para a função de fazer-lhe o penteado. Curiosa, eu gostava de assistir a cena que se passava no jardim, onde havia cadeiras de ferro e uma mesinha. Vovó, vestida de roupão, trazia da cozinha uma pequena bacia e uma jarra com água quente. Depois, sentava-se com a cabeça pendida para trás. Antes de começar a lavação dos cabelos com shampoo Aristolino, acontecia uma coisa que eu não entendia. A cabeleireira punha dois tabletes de anil para dissolver na água daquela bacia. Eu ficava intrigada, porque sabia que usavam anil para lavar roupas de cama, toalhas de mesa, etc. Por que será que ela ia jogar aquilo na cabeça de vovó? Mas era assim que acontecia. Após a esfregação com shampoo, a última água era aquela azulada. Só muitos anos mais tarde é que me explicaram o motivo da operação.

Atualmente, estando eu com os cabelos bem branquinhos, outro dia, cansada de usar o shampoo roxo (o anil que já vem preparado), fui atrás de um outro, cujo efeito é justamente o contrário, escurece os cabelos, deixando-os acinzentados, ou seja, grisalhos. Chegando à loja, disse para à jovem vendedora que eu queria um shampoo do tipo rinsage. Ela arregalou os olhos e chamou uma colega, pois não sabia do que se tratava. A outra tampouco. Então expliquei que eu gostaria de colorir temporariamente meus cabelos de cinza, por exemplo. Assim podia dar a impressão de rejuvenescer uns dois anos. As moças riram e disseram em uníssono: é uma shampuada! E trouxeram o produto certo. Antes de sair, porém, não pude deixar de dar explicações sobre a tal “rinsage”, perguntando se elas sabiam o que era creme rinse. Outra vez olhos arregalados, não faziam a menor ideia. Contei-lhes, então, que esse era o nome do atual condicionador. E que a palavra rinse vem do francês “rincer”, que é enxaguar. Aliás, grisalho também vem do francês. Gris é a cor cinza.

(05/set/2019)