Equilíbrio

Me lembro de passar fome aos 5 anos. Desde bem jovem, eu sempre associei felicidade a um prato cheio, com cores e carnes e legumes. Mas, enquanto eu comia um prato cheio, além da minha fome, eu me sentia menos satisfeito que antes, pois sempre um comercial com cores novas e novas combinações de comidas na televisão surgia, enquanto eu continuava a engordar compulsivamente. Eu precisava comer aquele novo tipo de comida. Aquela que virava tendência. Eu comia e logo eu me sentia menos satisfeito, quando a próxima era anunciada entre as novelas que eu assistia.

Quanto mais eu comia, mais eu pensava em comer e mais longe a satisfação parecia estar. Então eu me tornei ansioso, antecipando a insatisfação, talvez deprimido, frustrado com certeza. Minha aparência me incomodava, temia pela saúde também. Eu precisava fazer alguma coisa. Decidi cortar a comida. Sim, daria certo, eu me acostumaria e não pensaria nem desejaria cada vez mais comidas, eu emagreceria e tudo iria ficar bem. Eu emagreci, de fato. Demasiado. Me tornei anêmico, magro demais, com aparência esquelética. Mas, ao contrário do que eu pensei, a satisfação não veio. Eu continuava pensando compulsivamente em comida, agora pior pq tinha me proibido de comê-las. Eu fiquei ainda mais ansioso, ainda mais deprimido e frustrado. A aparência ainda incomodava. Então eu finalmente entendi, a satisfação que eu precisava não iria vir dos meus extremos: nem comer tudo que desejar, nem me negar todos os meus desejos. Mas equilíbrio. Comer apenas o que o meu corpo precisa e este ser o fruto do meu desejo. Satisfação deve vir do equilíbrio. E o mais curioso é que não se trata de comida.

Assim é sobre a felicidade.