PERNAS CARTAS CRUZADAS

Estava ela lá fora .

Plantava outro momento de

ontem a noite,

num lugar construído

pra ser o altar da solidão

um jardim secreto , discreto

e nos fundos do quarto.

Como este mundo feito de amor,

da paixão desejada!

Cada flor morta tinha uma cruz

dependurada , um sexo casual

de pecado, um vestígio da fome

saciada.

Uma adoração a um Deus , uma

oferenda , um lamento do corpo.

Meu corpo usado pra estancar

estas feridas que se abrem todas

as noites na mágoa vestida que

sai perdida , consumida de mim

querendo ficar.

Um beijo de propósito,

naquele que olhava e penetrava

sua intenção de viúva negra

e logo caia para braços delicados

unhas coloridas , num vestido

de feixe aberto dos lados,

nas pernas cartas cruzadas

meias vermelhas que acima

de tom branco a pele mostrava

a versão maligna do fundo falso

que ela trazia e fazia viver.