O teatro de ninguém

Ela parece estar viva por conta de seus óbitos. Há primeira vista nem sequer um bom dia, apenas se apresentando ao longo do tempo.

Sua amargura murmura no breu ninguém consegue morar lá, sua escada ao longo do corredor escuro tende a controlar seus passos nenhuma lâmpada consegue clareá-la, as cores não têm poder por ali, imediatamente são engolidas pela escuridão.

De estrutura horizontal e aparentemente feita a facão ferro e fogo ela é reconhecida no sentido longe, por si viver.

Notório mesmo era o cheiro de sangue acompanhado do terrível choro dos aquém e apesar do tempo diferenciado, todos tinham um motivo para permanecer.

Não admitíamos intrusos no recinto nem ambientes cheios, aqui existem métodos coexistentes não a tempo para treinamentos de novos agregados. No passado tivemos inúmeros personagens cada um enigmático e pecúlio de modo tão intenso quanto suas estórias e presenças marcantes.

Cada qual se apresentava a seu modo, um misto de fumaça delineada, vultos, panelas, vidros quebrando, portas batendo unindo-se ao barulho de conversas paralelas tumultuadamente sem distinção de assuntos além do barulho d’água a despencar na cabeça de alguém seja lá ele quem for. Você sabe quem é o decujus? O sujo, que de tanto infernizar vive a perambular. De tão infeliz e turvo, tenebrosidade se reduz a uma paisagem fúnebre, fétida e feia. Tão é a atribulação e sem cura. Verdadeira condenação de emoção, de sorte, a morte é a arte de não ter como escapar de lá.

Viva as quedas, tropeços e arremedos. Peças esta com “Q” de suspense sem presentes para “palmar”. O perfeito teatro morto, solo, pois cada um tinha seu mundo e energia que ninguém se entendia. Como idiomas diversos. Ali como aqui, não existe democracia só utopia, e a velha síndrome do cachorro a correr atrás do próprio rabo, brabos e tristes, assim nem mesmo você assiste.

Cely Soares
Enviado por Cely Soares em 11/09/2019
Reeditado em 14/09/2019
Código do texto: T6742915
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