IRONIA x VERDADE (Crônica)

A ironia é, sempre, um tipo de verdade. Logo, cabe: o que é verdade? Bem, aí, como diz o povo: ‘Complicou’.

Sabe-se que ninguém tem o poder de definir, em absoluto, o que é verdade? Ainda assim, curioso é constatar que: todos, quando à frente de um fato estão, sabem reconhecer o que não é verdade.

Verdade, além de substantivo feminino (palavras têm gênero, não sexo), é abstrato – aquele que não existe por si. Só existe em relação. Assim, a verdade é algo que pode ser e pode não ser. Depende mais da crença do que da existência.

A ironia, além de figura de linguagem, é uma forma (concreta) de dizer e interpretar fatos e situações. Estes podem ser percebidos de diferentes formas (verdades). Ironia é uma delas.

Ironia é, sempre, crítica. Ao significar o contrário, o deboche do que se ironiza tenta fazer refletir sobre a hipocrisia e mau caráter de quem produz enunciados que são ironizados.

A verdade passa por situação perturbadora. Ela tornou-se problema, para muitos. A mentira (erro) tornou-se modo de ver e viver a vida, para tantos. Orientar alguém acerca de erro pode ser fatal. Literalmente. A verdade já não liberta, condena.

A ironia faz seu papel. Ou tenta. Mas serve mais para divertir do que orientar. Ri-se da ironia para despistar da mentira que é tomada, no caso, como ‘verdade’.

Mentira e verdade confundem-se. A primeira parece ser mais importante que a segunda. A ironia sempre se refere à verdade, acusando a mentira de hipocrisia, de trapaça, de mau caráter, de inverdade.

Ironia e verdade não se equivalem. Interpretam-se. Ou não.