Se cada um desse conta da efemeridade da vida seria tão mais simples conviver com os nossos “ais” de cada dia. Ao menos razoável. A moça que gravou o vídeo das horas que antecederam a sua morte, quando do aprontamento para o casamento, estava tão feliz e realizada e de repente a verruga da senhora que busca a vida, encostou em seu pescoço, bem na entrada da igreja, com 7 meses de gestação, a criança sobreviveu. O moço alegre, fanático pelo cruzeiro, fechou seu quiosque, entrou no ônibus e pimba: a mulher de preto pegou seu pescoço e ele deu o último passo pra trás. A vida é tão passageira e somos tão passageiros dela que quando você vê, nem a despedida lhe foi permitida, todo dia, toda hora pode ser a última oportunidade. Assim também, ficam as dores de quem se despediu dizendo: volta logo amor (em alemão) a saudade mata. E hoje vive o corte ainda sangrando de uma despedida sem adeus há menos de três meses, uma professora de línguas estrangeiras que amou incessantemente um médico, que não pode salvá-la, ossos do ofício. Da ausência de um sorriso, de um eu te amo, mesmo entre os dentes... A necessidade de cada um é uma forma delicada de dizer quem somos e porque viemos... Por isso, há alguns que necessitam de amor, outros de dor, outros ainda, de amor com dor e dor com amor. E é isso que nos torna mais ou menos humanos. A água para quem a tem em demasia não representa algo imprescindível, ao passo que para o doente terminal proibido de ingerí-la, é seu maior sonho, ou seja, o valor dela é infinitamente maior por ser impedido de fazê-lo. E nesse contexto de indas e vindas e de sonhos e desilusões é que plantamos os nossos atestados de inferioridade baseados em inveja e ganância ou alimentamos os sentimentos que nos tornam melhores por meio da ecologia pessoal: respeito, admiração, perdão, empatia, compaixão, caridade e solidariedade. E tudo isso vai nos tornando mais fortes quando aceitamos que a vida é uma batalha constante em que o nosso maior adversário é aquele que mora em nós e não aquele que nos circunda ou, nos tornamos mais fracos, alimentado-nos de intensas justificativas para assassinar os sonhos e a esperança, de modo brutal, nos enganando e enganando aqueles que creem em nossa realização como forma de gloriar-se com as conquistas daqueles que amam. E que a nossa humanidade nos aproxime cada vez mais daquilo que realmente vale a pena. Mas como até isso depende de ponto de vista e de ponto de encontro (de cada um) o tempo é que nos mostrará aonde mora o que é preciso, necessário, imprescindível. E para começar, porque não esquecer que tem razão apenas hoje? Só por hoje...
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 20/09/2019
Reeditado em 20/09/2019
Código do texto: T6749474
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