Não sei vocês, mas tenho tido uma espécie de preguiça social quanto à política ideológica radical extremista no Brasil. O fanatismo é tão dominador que qualquer coisa dita em contrário (esquerda ou direita), já vem logo um defensor do indefensável com tons brios de perversidade a destilar o ódio de forma excludente e taxativa, além de rótulos e mais rótulos. Isso não pode se tornar algo natural aos nossos olhos, pra assim não elevarmos ao patamar nível “hard” a nossa intolerância.

Agora mesmo vi um jornalista rabiscando de giz preto um texto de uma revista de propriedade de um consultório odontológico em que Érico Veríssimo fala sobre o assalto à educação. Um cronista que sempre se mostrou coerente foi xingado em tons de sintonia grossa alta entre nós que aguardávamos atendimento. Ele falava dos cortes na educação e não estava errado, os impactos são surreais, mas como sempre, a política da rotatividade, permite mais julgar papel do anterior como palanque para o próximo. Sinceramente, não há mocinhos. Todo processo político demanda um interesse que geralmente é pessoal e com desejo de permanência no poder. E é teu simples compreender com números tudo isso. Olha o que aconteceu com a família Sarney, com os Franco, com Bolsonaro e tantos outros que sevoetrificaram por ao menos duas décadas nesse ramo que se tornou um cabide de emprego pra lá de atraente: dinheiro certo, status, capacitação gratuita, viagens patrocinadas, crimes praticados sem sentença, é um bom negócio em tempos de globalização e desvalorização das pessoas em contrassenso com a tecnologia de ponta.

A reforma da previdência também foi assunto debatido num monólogo entre o rapaz que rabiscou a revista e a própria revista, e quando falou que a partir de agora respiraremos aliviados por não sermos obrigados a manter os aposentados sob nossas costas, razão pela qual estamos tão pobres, será mais simples investir em educação de qualidade em escolas militares sem nenhum dogma ou partido. O desemprego é a resposta dessa sociedade seletiva, mais ainda, desse povo que tem preguiça de se qualificar, não quer saber de estudar e quando o faz só como obrigação, entram frios no mercado exigente e que precisa de mais do que conhecimento. Além disso, a sociedade do mi mi mi fica impregnando a ideia fajuta de que se você não gosta de ovo, logo virá a associação defensora dos ovos.

Não somos reféns desse mundo moderno, somos autores, principais e coadjuvantes, temos a tecnologia a nosso favor, mas a inutilidade pessoal como resposta às máquinas como nosso desfavor, o café era servido pela camareira, hoje numa máquina você pode não só fazê-lo, como pagá-lo, o atendimento num banco era pessoal, agora você o faz deliberadamente de qualquer lugar do mundo pela internet, nós estamos sendo descartados e não há o que fazer, é a nova regra da modernidade e somos um sistema interligado, integrado. A falta do que se ocupar torna as pessoas ansiosas: o que será de mim em uma década? Já reparou como cresceram os cursos de psiquiatria e psicologia, as clínicas estão lotadas, e a vida vai se esvaindo entre os dedos. E tem gente rabiscando revista alheia por posição contrária enquanto não descobriu que na verdade, o processo é doloroso para todos, e não para alguns.
Estamos todos no mesmo navio, iceberg de todos os lados, buracos na estrutura interna e externa, a água entrando e ao invés de ajudar a tirar o lodo, vamos afundando com a triste ideia de que, certamente vale mais um discurso. E haja coach! A razão deve prevalecer no quesito crise, inclusive de identidade. 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 23/09/2019
Reeditado em 23/09/2019
Código do texto: T6751975
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