A origem do ''pobre''

A Finlândia já foi terra pobre, de emigração. Tem um punhado de finlandeses e descendentes vivendo na Suécia, pra você ver. Então, investiram no povo, na educação, e o resultado tem sido espetacular. Mas, ainda continua tendo gente que ganha menos, que está em profissões que exigem mais do esforço manual do que do intelectual.

Como explicar a persistência de desigualdades em uma sociedade tão igualitária??

Se eu falar "genética", levarei umas boas pedradas. Mas, é basicamente isso. As escolas são quase todas públicas. As condições são iguais. A esmagadora maioria dos finlandeses se beneficiou com o desenvolvimento do país. Mas, continua tendo gente que não é capaz de cursar ensino superior, pensar mais densamente, trabalhar em profissões intelectualmente exigentes, por mais que o currículo escolar seja o mesmo e os professores se esforcem em não deixar ninguém pra trás.

Parece necessário dizer isso: não somos absolutamente iguais. Nos diferimos em personalidade e, também, na inteligência. É logicamente provável que, num ambiente muito pobre ou precário, o potencial de desenvolvimento do indivíduo se encontrará seriamente afetado. Mas, isso não mais acontece na Finlândia. E, como podemos perceber com facilidade, esse potencial de desenvolvimento intelectual varia. Não é crime ou pecado ser mediano ou ter capacidades cognitivas mais simples. Sou contra chamar quem é assim de ''burro'' ou ''estúpido''. É um processo difícil reaprender a pensar sem usar ofensas, já que são tão úteis em momentos de raiva ou confrontação com pessoas que pensam muito diferente e vezes mais errado que a gente.

A história humana, das comunidades primárias até às sociedades complexas, nos ajuda a entender porque, mesmo em paraísos igualitários, como a Finlândia, ainda continuarão a existir pessoas com capacidade mais simples trabalhando em profissões equivalentes, ou, uma diversidade mais natural de intelectos, tanto no tipo quanto no tamanho de complexidade que consegue armazenar, reproduzir e criar.

Cognitivamente simples ou mais adaptados a ambientes humanos primários [ comunidades tradicionais/caçadores-coletores e agriculturalistas]

O Brasil, por exemplo, em relação ao êxodo rural que tem vivenciado, especialmente a partir dos anos 50.

Muitos moradores das áreas rurais foram sendo expulsos para as margens das médias e grandes cidades. Têm os que se adaptaram à roupagem cultural moderna e diversa da cidade. Outros permaneceram fiéis aos velhos modos. Existem fortes ligações entre o campo e as periferias. Mesmo assim, muitos desses humildes, das classes trabalhadoras, inclusive os importados da Europa e outros continentes, são, cognitivamente falando, criaturas do campo, que se adaptaram à profissões urbanas, mais parecidas com os afazeres rurais tradicionais.

Quando a humanidade, ou parte dela, começou a se sedentarizar, com a descoberta da agricultura e/ou domesticação de plantas e animais não-humanos, as antigas comunidades primárias, parcamente povoadas, foram se aglomerando, dando lugar à cidades. Novas profissões ou especializações foram aparecendo para atender às novas demandas. É ingenuidade ou ignorância pensar que essas mudanças não foram acompanhadas por alterações na genética da população. O aparecimento das civilizações também foi marcado por uma guinada nas desigualdades sociais... Um dos mecanismos fundadores dessas desigualdades é o surgimento gradual de castas de profissão, parecido com o que tem na Índia. Pessoas das mesmas castas/classes de profissões se casando mais entre si ou homogamia social, criando novos nichos ocupacionais e fenotípicos e acumulando heranças familiares desiguais. Aqueles que se assemelhavam cognitivamente às populações basais humanas, dos primeiros núcleos comunitários, foram mantidos, ''úteis'' no trabalho pesado ou servil, e recebendo menos por causa do valor ''calculado'' pras suas profissões, sem falar dos escravizados.

O "pobre" veio daí.

Pense num índio recém-saído de sua tribo quase intocada que é colocado no meio de uma cidade grande. Como é que ele se adaptaria a esse novo ambiente??

Vale dizer que não é todo aquele que nasce numa classe social trabalhadora que apresentará uma inteligência restritamente adaptada a ambientes [atividades] cognitivamente simples que demandam mais força física, porque mutações que ampliam a complexidade da mente têm aparecido em todas as classes, mais em umas do que em outras.

Não tenho com isso a intenção de decretar um fatalismo que, então, devemos esquecer todas as medidas sociais que pedimos inutilmente aos pseudo-governos do nosso pobre e rico país, ou justificar desigualdades, mas sim, de entendê-las, para buscarmos pelos antídotos mais eficazes em seu combate. É sempre bom, pela sabedoria, não nos deixarmos engolfar por nobres sentimentos mal alocados no processo de raciocínio, pois resultam no abraço a factoides que, apesar de bem intencionados, podem gerar mais problemas e sofrimento do que solucionar os existentes, e, eu não sei quanto a vocês, mas não é isso que eu quero e, portanto, estou preparado pra deixar minha cara a tapa, de nunca apoiar medidas que não solucionarão os nossos problemas, de sempre buscar pela verdade dos fatos e a partir deles, pela ponderação e justiça nos atos.