Sobre Domingos, Amizades e Despedidas

Acredito que não seja só eu (Na verdade torço por isso), que em momentos de despedida, se imagina 20 anos mais velho ou experiente, jogando fotos em cima da mesa, chorando com o coração apertado e inconformado com a ideia de que esses momentos outrora registrados em fotos jamais voltarão. Hoje com 31 anos, tenho uma vaga ideia do que há de triste e nostálgico nesses momentos vistos 40 anos no futuro. Ou serão eles hoje banhados de tristezas e nostalgia? Não sei ao certo. Ainda bem!

Dito isso, me propus o desafio de falar no tempo presente, porém no Pretérito Perfeito (por mais imperfeito que seja), me pareceu uma forma de expressar o que se passou hoje. Ou melhor, o que se passou a 20 anos atrás.

Vamos lá:

"Que feriadão inesquecível aquele! Caetano estava então com 5 meses recém completos. Milena estava cada vez mais linda e, mal sabia ela,que após virar mãe cada dia eu a amava mais. Não fazíamos ideia que estávamos no auge da nossa juventude. Realmente éramos muito felizes. Obviamente como em toda nossa vida, tínhamos preocupações como grana, emprego, saúde do bebê, que exemplos daríamos para Caetano, o bem estar de nossa família, que tipo de família estávamos formando, eu já falei grana? Mas a esperança, amizade e o amor sempre foram maiores que todas as tempestades. Éramos realmente muito abençoados e felizes. Era o final de semana do casamento da Manu e do Milton, nossos compadres que moravam em Floripa. Fizemos nossos preparativos meses antes e fomos de avião. Eu consegui uma folga forçada. Milena e eu sempre fomos corajosos ou malucos (muitos diziam), “um bebê de 5 meses viajando de avião”. Chegamos na quinta. Sexta à noite Flávio e Mauricio chegaram. Sábado passamos o dia juntos. Enquanto a Milena estava no salão, resolvemos parar e tomar algo para aproveitar nosso tempo juntos. Morávamos todos em estados diferentes. Flavio no Paraná. Milton em Santa . Mauricio na época tinha residencia fixa em Brasília. E eu o único forte e remanescente que ficou no Sul. Paramos em um bar à beira mar. Sentamos todos. Caetano junto, participando da sua primeira roda de amigos. Todos seus padrinhos. todos amigos mais velhos que ele. Saudade do meu filho pequenininho. O casamento foi à noite. Lindo demais. Na beira de um lago, abençoado por todos os santos. Sim, até hoje eu lembro. Estávamos em casa. Estávamos em família. Alguns meses depois a Manu descobriu que estava grávida. Gosto de imaginar o passado assim. E afinal a história é minha.

Domingo, Flávio e Mauricio iriam embora. Como estávamos hospedados no mesmo local passamos o dia juntos. Colocamos o que devia ser posto em dia. Política, religião e futebol. Assuntos difíceis, eu sei, mas esse é o tipo de coisa que só velhos amigos conseguem fazer. Conversar sobre política, religião e futebol sem se matar. Então, como todo bom domingo, este chegava ao fim. Pelo menos ao fim da tarde. Após nos despedirmos. Antes de abrir o portão. Tiramos uma foto. Uma selfie(Na época era legal). Ao recordar a foto hoje, lembro que na época eu quase chorei ao fechar a porta e voltar para dentro de casa. Senti tristeza e alegria de saber o quanto foi necessário esse final de semana. Tanto para mim, quanto para Milena. Choramos juntos na mesa quando li um esboço de tudo. Choramos tomando café. Choramos por saber que nada seria como antes. Choramos por saber que éramos muito felizes, e que vivíamos um momento único de amor e

amizade. Também sorrimos por estarmos chorando juntos, na mesa, tomando café enquanto nosso filho dormia no quarto ao lado. Lembro que pensamos juntos:

Tadinho do Caetano, ter pais que ficam tristes em finais de domingo. Pegamos o voo de volta no dia seguinte. Caetano se comportou todo caminho e chegamos bem. Na semana seguinte acertei os números da mega-sena e fiquei milionário. Flavio e Mauricio hoje estão aposentados e muito felizes fazendo o que sempre sonharam. Manu e Milton tem muito filhos e netos. Vivem felizes e sempre viajando. Todos nós hoje somos gratos pelo nosso passado ter sido tão repleto de momentos que nunca deveriam ter acabado, e que terminam pois não há um novo começo sem um velho final. Inclusive hoje não há mais pobreza no Brasil. Caetano é presidente do país e o mundo segue em quase paz mundial.

Até parece mentira, mas como já disse, a história é minha eu conto ela como eu quiser. Faço eu o meu passado. Ou seria futuro?"

Nicolas Nazario
Enviado por Nicolas Nazario em 25/09/2019
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